A vitória soube bem mas foi sofrida
Estava ontem a ver o jogo da selecção frente à Arménia (com um número simpático de espectadores no estádio do Algarve, cerca de 21 mil) quando me imaginei a acompanhar com atenção uma daquelas partidas em que o Sporting pressiona o tempo todo e acaba por não desatar o nó que lhe é imposto por um adversário que estaciona o autocarro defronte da baliza.
Neste jogo pelo menos o nó acabou por ser desfeito. Pelo "suspeito" do costume, Cristiano Ronaldo, que marcou o seu 23º golo com a equipa das quinas num desafio do Campeonato da Europa - parece que estabeleceu novo recorde com esta marca.
Mas o herói da partida acabou por ser alguém que saltou do banco: Ricardo Quaresma, autêntico pronto-socorro da selecção que enquanto suplente utilizado acaba por ser a chave da solução de que Portugal necessitava pelo segundo jogo consecutivo (o primeiro foi na partida anterior, frente à Dinamarca).
E voltei a pensar no Sporting, enquanto melhor escola de formação de extremos do mundo: Quaresma e Cristiano, frutos desta escola, continuam a demonstrar enormes atributos neste sector que são de uma utilidade extrema (o adjectivo neste caso impõe-se) ao serviço da selecção nacional.
A vitória portuguesa neste jogo em que defrontou uma linha defensiva arménia composta por cinco elementos não tem discussão. Mas foi um triunfo sofrido, como tantos que têm acontecido ao Sporting.
Nós, adeptos leoninos, sabemos avaliar bem isto.
Confesso que, por absoluta falta de paciência, ontem não escutei um só minuto das perorações dos pseudo-especialistas de sofá que acampam nos ecrãs televisivos durante horas a fio após as partidas de futebol. São raros aqueles que respeito, são raros aqueles com quem aprendo alguma coisa. Quando escuto a maioria deles nestas intermináveis rondas televisivas quase sempre dou por mim a pensar que se tratou de tempo desperdiçado.
Falo, portanto, apenas pelo que vi - não pelo que ouvi.
E o que vi?
O jogo foi feio. Houve demasiado chuto pr'ò ar, houve demasiados passes falhados. Só uma equipa em campo ambicionou a vitória. Só uma equipa fez tudo para vencer. Houve duas grandes penalidades por marcar - Portugal foi prejudicado em ambas as ocasiões.
Fernando Santos parece um treinador com sorte: conseguiu seis pontos em dois jogos à frente da selecção. A estrelinha voltou a sorrir-lhe ontem mal operou as substituições, fazendo entrar Quaresma para o lugar de Danny: decorridos dois minutos, aos 71', o extremo criativo que só Lopetegui parece não admirar inventou o lance de que resultaria o golo.
Gostei muito da estreia de Raphael Guerreiro como lateral esquerdo - melhor do que Eliseu nesta posição que tem o lesionado Fábio Coentrão como titular. O jovem lusofrancês (que mal sabe falar o nosso idioma, ao que dizem os jornais) revelou concentração, ousadia e notável destreza técnica. Coube-lhe lançar o primeiro ataque com perigo da selecção logo nos instantes iniciais, em cruzamento para Danny.
Bosingwa, mais contido nas incursões pelo flanco oposto, é um regresso que se saúda - outro regresso impulsionado por Fernando Santos - quatro anos depois. Acho muito bem: não pode haver castigos perpétuos na selecção.
Éder jogou pela 15ª vez com a camisola das quinas mas continua sem marcar o golo de estreia: já parece sina. O melhor que conseguiu foi desta vez, com uma bola ao poste.
E os nossos?
Rui Patrício fez um par de boas defesas confirmando a sua classe. Nani foi um dos melhores, em articulação permanente com Ronaldo: participou na jogada do golo e ainda chegou a mandar uma bola à barra. Saiu de campo sob uma merecida ovação do público, dando lugar a William Carvalho, que também cumpriu na sua missão de tornar mais povoado e consistente o nosso meio-campo.
E agora que venha o jogo de terça-feira, contra a Argentina. É a feijões, mas tem um condimento único: o duelo Messi-Cristiano Ronaldo.
Avaliação dos jogadores:
Rui Patrício (7) - Seguro
Bosingwa (6) - Eficaz
Pepe (5) - Discreto
Ricardo Carvalho (7) - Sólido
Raphael Guerreiro (7) - Ousado
Tiago (6) - Atento
Moutinho (7) - Combativo
Danny (6) - Irregular
Nani (8) - Irreverente
Cristiano Ronaldo (8) - Influente
Helder Postiga (5) - Irrelevante
Éder (6) - Esforçado
Quaresma (8) - Criativo
William Carvalho (6) - Consistente