Muito mais do que um jogo
Gosto muito de Mancini. Sempre gostei. Foi um senhor no calcio e um ídolo em Génova. Ganhou com a Samp o único scudetto da história do clube com uma equipa onde brilhava Vialli, o grande Vierchowod, Lombardo (o Caccioli italiano), Cerezo e Pagliuca. Nuns quartos de final da UEFA deu-me, ao marcar o golo nas Antas, uma grande alegria quando eliminou o Porto. Isso mesmo, eu fico muito muito feliz com o insucesso dos outros, não vale a pena engrossar a maralha de hipócritas que anda por aí. Mas lembro-me bem de um jogo, estava ele já na Lázio (onde foi, infelizmente, campeão) e regressou ao Luigi Ferraris contra a sua Sampdória, camisola que tinha vestido durante 15 épocas. No final, os adeptos da Samp gritaram o seu nome e fizeram-no ir às lágrimas, cobrindo-o de cachecóis. Mais ou menos a mesma coisa que vi ao vivo quando Nedved regressou ao Olímpico com a camisola da Juve. É verdade, o calcio é outro mundo, outra mística, outro culto. Para mim, é assim que se deve sentir o futebol, a nossa equipa, o nosso clube. Serve isto para dizer duas coisas. O futebol, ao contrário do que disse o mui venerável José Manuel Barroso, é muito mais do que um jogo. No dia em que for só isso, acabou. Finito. A outra, é que ainda há uma diferença entre a ópera e o futebol: num está-se bem caladinho para não perturbar o espectáculo, no outro grita-se com tudo o que se tem para que os nossos ganhem e a nossa camisola brilhe. Porque só isso interessa.