Uma caldeirada em Setúbal
Apetece-me repetir aquela máxima do Domingos, que se tornou recorrente a partir do final de dezembro: a equipa ofereceu a primeira parte. Foi isso, oferecemos a primeira parte ao Vitória. Eles jogaram melhor, mais rápidos sobre a bola, tentando surpreender o Sporting e marcar primeiro. Se assim o planearam, assim o conseguiram. E 1 a 0. Na segunda parte o jogo mudou, fomos mais rápidos, mais intensos, dominámos mas... não marcámos. E ponto. E ainda fomos infelizes: os dedos do excelente Diego chegaram à bola, no penalti do Matias, aquela desviou para o poste direito e pafff! Se fué! Depois um remate do nosso Insua passou pelo Diego, mas encontrou o Miguelito na linha do golo. Y se fué!
A segunda parte justificava a vitória, uma vitória. Mas não deu. Que raiva para quem, como eu, foi apoiar a equipa, se arriscou a ser insultado por alguns adeptos do Vitória e ouviu tambem alguns deles gritarem para os seus jogadores, quando disputavam a bola com o Izmailov: «Deem-lhe no joelho, deem-lhe no joelho!». Não deram. Os jogadores do Vitória não fizeram ao jogador do Sporting o que os do Paços fizeram ao Rinaudo. No restante, foi divertido. Relembrei aqueles jogos de há 40 anos atrás, quando ia com meu pai ver o Portimonense, e aprendi uma boa parte dos palavrões que hoje sei, nos insultos de certos espetadores ao árbitro. Em Setúbal, no Bonfim, foi isso: parte dos espetadores que me rodeavam passaram o tempo a exercitar o seu verbo rude, dirigido ao homem do apito. Acho que muitos deles nem gritaram pelo seu clube, durante todo o jogo. A mãe do árbitro é que foi chamada repetidamente à liça e pude verificar que a senhora nem sequer estava lá, parece que ficou a ver o filho pela televisão. O filho não se portou bem, não. Inseguro, cobarde, não vendo duas penalidades a favor do Sporting e poupando o raçudo pretinho que jogou de lateral direito ao segundo cartão amarelo, logo na primeira parte. E por aí a diante... Mas não foi por culpa dele que perdemos o jogo, a mãe do senhor árbitro pode ficar descansada - foi por nossa culpa mesmo, na primeira parte sobretudo. E por culpa dos dedos do Diego e dos pés do Miguelito.
Moral da história: depois do jogo, Fernando Pedrosa, ex-presidente e dirigente histórico do Vitória, convidou o grupo para uma (ótima) caldeirada n'O Miguel. A jantarada revelou-se bem mais equilibrada, na qualidade, do que o jogo: deliciosa do princípio ao fim. Ao contrário da caldeirada do final da partida, a qual teve como principal ingrediente a expulsão do Carrillo e a sua indisponibilidade (por algumas semanas) para dar o seu contributo à equipa. Parece que, desta vez, foi por excesso de vigor físico, não por débito. O nos dá esperanças, para o futuro, quanto à preparação física do plantel. Ai City pego!