Os nossos jogadores (7): Adrien Silva
E ao sétimo ano da crisálida desabrochou a borboleta, quando já não se esperava por ela.
Ao cabo de 15 jogos na 1ª equipa do Sporting durante a época 2007/08, 19 na época seguinte e 24 em 2009/10, Adrien Silva não se retirara da banalidade e dele nenhum esplendor se esperaria. Seguiram-se dois anos de luto na Académica, com irrelevante passagem por Tel Aviv, em que sensibilizou a lúgubre assistência do Calhabé, saudosa das glórias de 60, quando o salazaro-benfiquismo lhes cortou as asas de corvo. O maior feito de Adrien perpetrado com tal camisola terá sido enrodilhar-se com Polga logo aos 4´da Final da Taça, facilitando o golo da vitória da Académica contra o Sporting.
Foi pois de nariz torcido que os sportinguistas o viram de regresso ao clube, para mais empurrado pelo rumor de que o coiso lá do norte andava atrás dele. Sabe-se lá se não foram malhas que o Mendes teceu para enrolar o Godinho – o trivial por aqueles dias.
Estávamos à bica da época 2012/13, o inverno mais longo e penoso da história do Sporting. Adrien tornou-se efetivo num meio-campo com Elias e Gélson ou Pranjíc (Schaars e Rinaudo lesionados). Aquilo era um Cerbérus desdentado ou três Górgonas cegas; de qualquer modo, um bicho feito no inferno para nos apoquentar. Nos pés de Adrien a bola desanimava, o jogo entaramelava-se, o tempo escoava-se e dali saía ou um passe enroscado ou um corte mesquinho. Foram justos os assobios que escutou, o meu entre eles, que perdi muito a paciência o ano passado.
Prometera-nos o prof. Jesualdo que 2013/14 seria um annus horribilis (estando ele a vivê-lo de verdade, mas no arcebispado). Que Adrien constasse no plantel, só poderia confirmar tão maligna profecia. Por mim confesso: paguei às cegas o lugar de época, disposto a apertar o cinto – a hell of a bumpy ride…
Porém…
O porém é que este ano nos saiu um Adrien vintage como nunca antes apreciáramos, menos ainda conceberíamos. Adrien é a boca-do-lobo das jogadas adversárias (já repararam que ele tem mesmo boca de lobo?), o macho-alfa da alcateia sportinguista, capaz de varar o território de caça atrás da bola. Ter-lhe-ão decerto acrescentado um pulmão para correr assim o jogo inteiro e despertado uma lucidez antes hibernada em pele de cordeiro.
Ainda há muito pão para comer até ao final do campeonato, e pão que o diabo amassou. Está visto que se lembraram de tirar da caixa as bolinhas de Natal de há 15 anos, em que nos inventavam uma série de 3 a 5 jogos com arbitragens à medida, de modo a converter a Consoada numa Última Ceia. Não haja uma sarrafada cirúrgica ou um punhado de cartões canários exibidos com insolência e teremos muitas alegrias a recolher deste renascido Adrien.