Os nossos ídolos (34): Rui Patrício
Atribui-se ao Sporting, e com toda a propriedade, o mérito de ter formado os melhores extremos que o futebol português já conheceu até à data.
Para muitos essa será, aliás, a principal virtude das camadas jovens do futebol leonino: formar extremos de qualidade mundial, como mais nenhum outro clube em Portugal sabe formar.
No entanto, não será exagerado reconhecer-se que, a par dos seus extremos, o Sporting também se tem distinguido, ao longo da sua história, pelos seus guarda-redes.
A memória colectiva de quem ainda os viu jogar, ou as crónicas da época, não me desmentem: Azevedo, Carlos Gomes ou Vítor Damas foram gigantes no seu posto, começando e acabando neles as vitórias que fizeram do Sporting um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa.
As suas carreiras foram de tal ordem extraordinárias que, ainda hoje, quando alguma publicação se propõe eleger os melhores jogadores de sempre do futebol português, todos eles continuam a figurar distintamente nessa lista.
No imaginário leonino, um guarda-redes de eleição, na tradição de Azevedo, Carlos Gomes ou Vítor Damas, tem de: ser excepcional; deixar tudo em campo; jogar muitos anos de leão ao peito; capitão da equipa e vencedor.
Desde que Vítor Damas deixou a baliza do Sporting muitos tentaram preencher estas qualificações mas, verdadeiramente, o único que o conseguiu na plenitude foi… Rui Pedro dos Santos Patrício.
Rui Patrício tem só 25 anos, o que no seu posto nem sequer corresponde à idade da maturidade de um guarda-redes, mas parece que defende a baliza do Sporting há 20 anos.
Quando Paulo Bento arriscou lançar o miúdo de Marrazes às feras, depois de Stojkovic ter desperdiçado a oportunidade para provar ser o melhor guarda-redes da Europa, muitos vaticinaram que aí estaria o próximo guarda-redes da Selecção Nacional. Mas outros tantos não se coibiram de lhe apontar, de forma desprezível, as ineficiências, não dando qualquer margem de erro.
Rui Patrício traçou o seu próprio caminho. Contra a desconfiança dos rivais, por vezes dos próprios sportinguistas, contra a falta de qualidade de muitos dos seus colegas de equipa e que muitas vezes afectou o todo, e contra, em certo momento, uma fase pessoal menos favorável e que a imprensa sensacionalista tentou explorar ao máximo.
Em todos esses momentos, nunca o guarda-redes do Sporting se deixou abalar. Nunca se lhe apontou qualquer crise de confiança. Bem pelo contrário, quanto mais o Sporting se afundava, mais crescia e se distinguia Rui Patrício.
Não será exagerado dizer-se que o Sporting é Rui Patrício e mais 10.
A imprensa, os rivais, e até mesmo muitos sportinguistas, têm suscitado, ocasionalmente, a estranheza pelo facto de Rui Patrício ainda não estar a defender outro grande da Europa. Talvez porque ainda não chegou a sua hora.
O certo é que apesar de nas duas últimas temporadas, no último jogo para o campeonato, se ter despedido de forma muito emotiva dos adeptos, oferecendo a camisola, no que muitos quiseram logo ler aí o sinal da sua despedida do Sporting, Rui Patrício estava presente na pré-temporada seguinte, sem dar mostras de qualquer descontentamento ou angústia. Muito pelo contrário.
Rui Patrício é o último grande capitão do Sporting, nos últimos anos. Rui Patrício é o Sporting que eu conheci e amo. O Sporting feito por quem sua e bate-se até ao fim pela camisola, por quem não cospe no prato onde comeu, e por quem joga como só os melhores sabem fazer.
Não vi Azevedo jogar, não vi Carlos Gomes jogar, e também não vi Vítor Damas jogar. Por isso, Rui Patrício é o “meu guarda-redes”, de todos os Sportings que vi jogar desde que fui ao futebol pela primeira vez na vida, no longínquo ano de 1990.
E, pela sua excepção entre os postes, pela entrega com que se dedica ao jogo durante os 90m, pelo facto de já defender as redes do Sporting há vários anos, pela inevitabilidade de ser o seu capitão, e pelos títulos que já conquistou, Rui Patrício é um dos meus ídolos do Sporting Clube de Portugal.