O Benfica é um clube sem identidade
Dizia-se em Espanha que na capital industrial da Catalunha o Barcelona jogava um futebol atlético; dizia-se que o Atlético de Bilbao era todo ele fúria e inconsequência nacionalista e que na capital o futebol do Real Madrid era cosmopolita e ganhador. Era mais ou menos como dizer que o Inter de Milão era a força dos músculos dos operários fabris, mas quem ganhava era o Milão e que em Manchester às armaduras do United faltava a inspiração do City. Ao que parece, havia uma identidade entre o futebol e as cidades, entre o futebol e os adeptos. Se isto dito assim fosse verdade, então, o que dizer do Benfica? Tem 6 milhões de adeptos que fazem do clube o maior de Portugal e um dos maiores da Europa. Tem um estádio que deita por fora quando a equipa ganha e que parece o Francisco Lázaro do Fofó quando anda a perder. O Benfica tem aos seus pés o povo genuíno deste país mediterrânico e nessa sua heterogeneidade ambiciona ser o clube mais português de Portugal. O Benfica quer ser o clube do povo e ao sê-lo acaba por ser um clube sem identidade. O Benfica é o clube de uma massa adepta que se embebeda com o estádio cheio, que produz fenómenos antropológicos como o Barbas e o Diabo e que faz da camisola vermelha código de comportamento social no centro comercial Colombo. O Benfica é tudo isto e por ser tudo isto não é nada. O Benfica é um clube sem identidade porque o seu povo vira as costas ao primeiro sopro de derrota. O Benfica é um clube sem identidade porque o seu povo não gosta de ser Benfica quando perde. O Benfica é um clube sem identidade porque o seu povo deserta quando é preciso estar. O Benfica é um clube sem identidade porque ao seu povo falta o futebol popular e porque ao seu povo faltam ídolos dentro de campo e causas para sofrer fora das bancadas.