Bruma de Elsinore
É melhor falar antes do que depois da decisão: esta farsa de Bruma tem qualquer coisa de shakespeariano, já que mostra indícios de tragédia.
O herói é um rapaz desamparado e balbuciante, vulnerável à sedução que uns espertalhões do pior calibre lhe insinuaram. Na boca deles, Bruma já foi vendido a todos os melhores clubes da Europa e do mundo e como prova das certezas que anunciam ofereceram ao ingénuo um automóvel de grande cilindrada. E no entanto a negociata está à vista de todos: assim que eventualmente se apanharem com o passe do moço na mão, vendê-lo-ão à primeira oferta na esperança de fazer mais-valias instantâneas. Se Bruma evoluir a contento, farão nova venda daqui a um par de anos, se não, pelo menos esta já cá canta. Ora se Bruma ficar no Sporting tudo fia mais fino.
Entontecido com tantas luzes, o rapaz nem abre o bico e quando o faz parece que até nem deslustra o Sporting. Dir-se-ia que está voluntariamente sequestrado... Estão, assim, alinhados todos os ingredientes para que a comédia tenha um final grotesco, à maneira de Vítor Baptista ou de Paim.
Temos então um nó górdio: para Bruma seria mais seguro que o parecer fosse favorável ao Sporting: ganharia uma segurança que é patente não ter, e teria tempo e espaço para progredir. Mas, ao contrário das aparências, para o Sporting já não é muito importante poder contar com Bruma: o balneário está completo e animado, não faz falta nele alguém de má-vontade. Para os pulhas rapinantes, na verdade tanto se lhes dá: está história é deveras imoral; outros papalvos virão, se este lhes escapar.
Curioso desenlace, sem dúvida...