Eles não sabem nem sonham
Alguns blogues que usam e abusam do nome do Sporting parecem feitos por pessoas que nunca vão à bola. Pessoas que não assistem a um só desafio ao vivo, que são incapazes de vibrar com a contagiante euforia das bancadas em dia de jogo, que não explodem de alegria cada vez que o nosso clube marca um golo e todo o estádio é percorrido por uma imensa onda de emoção.
Há quem seja capaz de escrever sobre futebol espraiando-se com aparente sapiência sobre sistemas tácticos, opções técnicas, dinâmicas de jogo. Há quem se aventure vezes sem conta pelos mistérios dos mercados de transferências e quem debite na ponta da língua as linhas completas das equipas dominantes em vários países da Europa e das Américas e saiba de cor os nomes dos respectivos treinadores, mas seja incapaz de escrever uma só linha sobre as emoções do futebol ao vivo quando as bancadas se pintam de verde e branco.
E no entanto nada há tão importante para entender este fenómeno sem par que é o futebol. Foi o que senti uma vez mais, na tarde de ontem, ao ver a saborosíssima goleada do Sporting ao Arouca no local próprio: o nosso estádio. O ser humano tem um apego inato a rituais - e o futebol é inseparável deles. Dos cânticos, das cores, da estética tão própria deste desporto que apaixona o mundo.
Cumpri com todo o gosto este ritual. Que começa muito antes do jogo e se prolonga depois dele, na zona das rulotes, enquanto se mastiga uma bifana e as imperiais - da marca certa, não da outra que nos promete a Luz - circulam à velocidade da sede enquanto se digere o jogo. Lá encontrei amigos e colegas de blogue - os primeiros com quem partilhei as emoções deste encontro inaugural do campeonato. O João Távora, o Francisco Almeida Leite, o José Navarro de Andrade, o Duarte Calvão, o Eduardo Hilário. Vários de nós ainda sem cachecóis, pois o calor aconselha a deixar este adereço em repouso. Mas todos com a paixão sportinguista renovada. De ano em ano, de época em época.
Os outros não sabem nem sonham que de tudo isto também é feito o futebol.
Foto minha. Texto publicado também aqui