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És a nossa Fé!

Mártires de Marrocos

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Não, não me refiro aos jogadores que ontem defrontaram e foram eliminados por Marrocos.

Refiro-me a outros, àqueles que tiveram alguma importância no Portugal medieval e que a propósito do jogo de ontem me vieram à memória.

Na hagiologia portuguesa foi relevante o culto aos Mártires de Marrocos, nomeadamente na região de Coimbra e no Mosteiro de Santa Cruz (o local onde verdadeiramente se pode dizer a frase salazarenta que consta no Castelo de Guimarães: “Aqui nasceu Portugal” – mas isso é história de outros quinhendros).

 

Mas quem eram estes Mártires?

Eram frades franciscanos enviados por Francisco de Assis em 1219 para a conversão dos muçulmanos e que se chamavam Beraldo, Oto, Pedro, Adjuto, Acúrsio e Vidal. Reza a história que este último, por ter adoecido, não chegou a entrar na Península Ibérica, pelo que não terá ascendido ao panteão católico da santidade. Os restantes chegaram a Coimbra, então a capital do Reino (dizem os mais coimbrinhas que continua a ser capital de jure) onde foram recebidos pela rainha Urraca (esposa do rei Gordo ou Gafo: Afonso II). Daí avançaram para sul, passando por Alenquer (não, não foram visitar a “Sãozinha de Alenquer”, essa só apareceria muito mais tarde na catolicidade popular portuguesa), onde foram acolhidos pela piedosa Sancha, irmã do rei que, por palavras reais, basicamente lhes disse para terem juízo.

Prosseguiram e chegaram a Marrocos, onde foram acolhidos por Pedro, não era o Apóstolo, era um homónimo irmão do rei de Portugal, que aí se encontrava por estar “às avessas” com o seu real irmão. Este repetiu-lhes as palavras de sua irmã, porém os frades fizeram ouvidos de mercador (neste caso mercador de almas) e continuaram na missão a que se propunham e iniciaram as pregações. É bem de ver que sofreram alguns reveses, os quais o infante português ia, como podia, livrando. Mas eles continuavam na sua prosélita missão, até o chefe-maior lá sítio – miramolim de seu ofício – se aborreceu e os mandou prender, julgando-os demover da sua missão. Em vão...

Assim que foram soltos, como pessoas cientes da sua razão, teimosos dizem outros, pregaram em praça pública que, como se está a adivinhar, não foi uma atitude muito ajuizada. Foram maltratados e levados, novamente ao chefe-maior lá sítio – miramolim de seu ofício – que se sentiu enfurecido face ao "pelo na venta" das respostas que estes frades lhe iam dando. E assim, talvez para não os ouvir mais, achou que seria melhor que ficassem sem cabeça. Assim o fez.

Os seus corpos foram recolhido pelo tal irmão do rei português, que acompanhado por um crúzio (não, não é o bolo), João Roberto de seu nome, trouxeram os restos mortais de volta para Coimbra. Conta a história que o local de destino seria a Sé, porém um milagre aconteceu: a mula que os levava fincou pé à porta do Mosteiro e, como uma mula teimosa, daí não saiu enquanto as suas portas não se abriram. Por aí ficaram… Bem, algumas ossadas foram mudadas para outros sítios, coitados dos santos católicos que têm os seus ossos espalhados por vários sítios.

 

Porém, isto não é o fim da história… claro que o culto a estes mártires faz-se em toda a cristandade, porém, como disse no início, foi em Portugal e em particular na região de Coimbra que foi mais relevante, estando hoje, contudo, esquecidos.

Dizia que não é o fim da história, pois estiveram na origem de um outro fenómeno: o do português mais conhecido de sempre em todo o mundo. Não, não se trata de Cristiano Ronaldo. Há um português mais conhecido, se bem que os italianos o queiram nacionalizar (um pouco à semelhança dos espanhóis quando Cristiano Ronaldo jogava no Real Madrid).

 

O episódio da chegada dos restos mortais destes frades a Coimbra e o seu exemplo foi motivo de inspiração a um cónego que estava, por esta altura, no Mosteiro de Santa Cruz: Fernando de seu nome e Bulhões de apelido. Este cónego resolveu abandonar este mosteiro, o seu nome e seguir o exemplo destes frades. Abraçou a Ordem dos Frades Menores, recém-instalada nos arrabaldes de Coimbra e aí tomou o nome de António.

 

O resto da história, a história de Santo António penso que conhecem…

 

Leitura complementar

Texto de Nélson Correia Borges, publicado no Correio de Coimbra n.º 4769, de 09-Jan-2020 e republicado no blog À cerca de Coimbra em 14-Jan-2020

Nike, igual a Vitória

(imagem de "Nike de Samotrácia" também conhecida por "Vitória de Samotrácia", presente no Louvre)

Como é público, o Sporting veste esta época equipamentos desportivos da marca americana Nike, em substituição da italiana (eu diria francesa) Macron, a qual ficará para sempre na história do nosso clube como sendo a marca de uma equipa campeã.

 

Inicia-se, pois, um novo futuro, vestido pela Nike.

Não vou fazer considerações sobre esta marca, vou recordar, tão só, o significado da palavra “Nike”, uma deusa da Grécia Antiga, o qual, queremos acreditar, possa ser um bom augúrio para o nosso clube.

 

Nike - «Filha de Palas e do Estige, irmã de Zelo (o furor), de Crato (a força) e de Bia (a violência), a Vitória (chamada Nike, pelos Gregos) pertencia à primeira geração dos deuses. Possuía na Acrópole de Atenas um célebre templo. Sempre associada à deusa Atena (Atena Nike). Geralmente, os artistas representam-na como uma mulher alada, trazendo na mão a palma e a coroa, guiando os deuses e os heróis no decurso dos seus feitos. Os Romanos, por seu lado, afirmavam que a efígie da Vitória tinha sido construída por Palante, herói epónimo da colina do Palatino, onde tinham edificado um templo em sua honra.» [1]

 

O símbolo desta marca comercial remete, precisamente, para as asas desta deusa, apresentando-a de uma forma estilizada.

Uma outra construção moderna da imagem desta deusa grega pode-se igualmente encontrar nas pequenas estatuetas presente nos veículos da marca Rolls Royce, denominada Espírito do êxtase.

 

[1] - Schmidt, Joël – Dicionário de mitologia Grega e Romana. Lisboa: edições 70, 1994. p. 271

 

 

Particularidades do título do Sporting

Como já foi referido, este título do Sporting teve a particularidade de ter sido obtido num ano ímpar. Desde 1953 que o Sporting não era campeão num ano ímpar. O que tem como consequència que desde 1954 (ano em que conquistou o tetra) que o Sporting não é campeão por dois anos seguidos. O bicampeonato tem que ser o principal objetivo para a próxima época, que tem que ser planeada a pensar nisso.

Analisando a história das classificações do Sporting, conclui-se que desde esse ano de 1954, a seguir a um título de campeão segue-se quase sempre um mau campeonato, com classificações abaixo do 2º lugar. A única exceção foi na época de 1971 - 2º lugar após o título de 1970. Desde esse tetracampeonato de 1954, só por três ocasiões o Sporting ficou dois anos seguidos (ou mais) acima do terceiro lugar: em 59/60 e 60/61 (dois segundos lugares), os referidos 69/70 e 70/71 e o bem mais recente "tetravicecampeonato" de Paulo Bento (e Soares Franco), entre 2006 e 2009, que eu sempre elogiei e sempre elogiarei. O título recém conquistado foi importantíssimo, mas mais importante (e mais histórico) será ser bicampeão em 2022. Toda a equipa terá que ser motivada para isso. E tem que haver estabilidade na equipa técnica e no plantel.

A propósito da equipa técnica: desde 1974, foi a primeira vez que o Sporting foi campeão tendo mantido um treinador da época anterior (pelo que foi dito, sem ter sido campeão). Desde então o Sporting só tinha sido campeão com treinadores estreantes, por vezes entrando mesmo com a época em andamento. E a maior parte das vezes os treinadores campeões não terminavam a época seguinte - por vezes, como Allison em 1982, nem a começavam. Foi esta tradição que Rúben Amorim veio quebrar. Esperemos que continue a contrariar a tradição e nos dê o bicampeonato.

Fazer história

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Sporting ciclotímico: não faltaram adeptos - até nas nossas caixas de comentários - a resmungar e reclamar após o Benfica-Sporting de sábado. Dizendo, entre outras coisas, que se perdeu uma excelente oportunidade para se "fazer história".

Alguns dos que agora resmungam, subitamente muito exigentes, são os mesmos que no início da época davam como garantido que seríamos ultrapassados pelo Braga e nos arriscávamos a discutir o quarto lugar com Paços de Ferreira e V. Guimarães.

Esses, apostados já em denegrir o treinador e os jogadores que repuseram o Sporting na rota dos títulos, acabam por dar razão a quem argumenta que o campeonato só conseguiu ser conquistado por não haver adeptos no nosso estádio.

Por mais que a equipa faça, nunca estão satisfeitos.

Antes criticavam João Mário porque jogava, agora criticam porque ficou no banco. Antes criticavam o técnico por não "dar oportunidades" a Daniel Bragança, agora criticam porque Amorim integrou o jogador no onze titular do clássico.

Só apoiam no fim de tudo, quando a vitória se consuma E mesmo assim, poucos dias volvidos, começam de imediato a denegrir a equipa campeã. Como se vê.

 

A esses, que queriam "fazer história" no penúltimo jogo de um campeonato já conquistado, tenho a dizer o que vai seguir-se.

- Fazer história é vencer o campeonato após o nosso mais longo jejum de sempre - que perdurou nas presidências de Soares Franco, Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho.

- Fazer história é termos o mais longo período (32 jornadas) sem derrotas alguma vez registado no campeonato nacional. Sagrámo-nos campeões invictos.

- Fazer história é termos concluído 20 partidas (em 33 já disputadas) sem sofrer um só golo nesta Liga 2020/2021.

- Fazer história é liderar o campeonato isolados desde a jornada 6, como este ano aconteceu.

- Fazer história é chegarmos à Luz já campeões a duas jornadas do fim.

 

Tudo isto é fazer história.

Agora há que preparar desde já a próxima época. Tão bem como esta foi preparada.

Apoiando jogadores, equipa técnica e dirigentes do princípio ao fim. Apoiar só na linha da meta, como alguns este ano fizeram, não vale nada.

«pessoa que for achada a juguar a bola […] pagar de pena dous mil rs e da cadea»

No Arquivo Histórico Municipal de Coimbra está patente uma pequena exposição intitulada “D’este mal da peste, que Deus nos libre” sobre as pestes na cidade de Coimbra.

No catálogo desta exposição, na página 56, encontra-se transcrito uma deliberação, como medida de contenção – diríamos hoje, da Vereação de 1569, que proíbe que se jogue à bola, seja lá o que isso era antes do futebol – talvez o mais parecido seja o o “Calcio Fiorentino” (ver no Youtube).

 

«1569, Dezembro, 3, Vereação [fl. 147v]- E logo nesta camera se acordou e asemtou que nenhua pessoa va da cidade fora da bandeyra da pomte a juguar a bola e a pescar ao lomgo do rio por omde amdão as pessoas empedidas e asy no Arnado e aos olivaes d’alem do Castello, so pena da pessoa que for achada a juguar a bola ou a pescar ao lomgo do rio dito he, pagar de pena dous mil rs e da cadea, a metade pera os tapumes da cidade e a outra pera quem os acusa e mandarão que seja apre[fl.148]goado pelos logares [acostumados].[…]

[fl. 149v]- Aos sete dias do mês de Dezembro de mil e quinhetos e sessemta e nove deu sua fee Pero Fernandez como apregoara pelos lugares pubricos que nenhua pessoa de qualquer calidade que seja joge a bola nos olivaes e cemsiraeis d’alem da pomte, nem va a pescar da Lapa dos Esteos ate o Almege, nem a jogar a bareyra soma dous mil rs, a metade pera os tapumes desta cidade e a outra para quem os acusar, e asy pelo dito modo que nenhua pessoa joge bola nem bareyra no Arnado, des a pomte ate a Fontoura nem pesque dos tapumes da cidade, sob a dita pena e asy pelo dyto das cousas segimtes, da porta do Castello ate Aregaça, sob a dita pena, como foy acordado em camera e asynou aquy o dito Pero Fernandez, porteyro. João gonçavez de Sequeira, o sprevi. […]»

Pelé em Alvalade

Este comentário de Francisco Melo, sobre os 60 anos de Maradona, onde questiona se Pelé alguma vez vestiu “o manto sagrado”, despertou em mim curiosidade em verificar se isso alguma vez aconteceu.

Não encontrei nenhuma foto, mas encontrei a crónica do jogo que Pelé fez em Alvalade a 19 de Junho de 1959.

Aqui fica:

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SPORTING, 2 – SANTOS, 2

OS «LEÕES» SÓ NÃO GANHARAM PORQUE FORAM INFELIZES

 

Quem ontem à noite se deslocou ao Estádio de Alvalade, por certo, não deu por mal empregado o seu tempo.

Se a partida não chegou a atingir, por parte dos brasileiros, o nível que se previa, deve-se o facto à boa réplica da turma «leonina» que em noite de inspiração, deve ter feito o séu melhor encontro da época.

Tecnicamente, não poderá negar-se categoria ao grupo brasileiro. O domínio de bola de todos os seus jogadores, a troca do esférico, a «presença» a meio campo, foram atributos que os sul-americanos denunciaram em larga escala. Simplesmente, nas disputas de bola e no perfurar a defesa contrária os brasileiros já se não apresentaram tão à vontade.

O motivo daqueles senões saltaram à vista por virtude da equipa «leonina», sem temor pelo adversário, jogou com o saber e jeito suficientes para neutralizar a acção dos «santistas». E, se uma das turmas houve que se mostrasse surpreendida, por certo foi a dos visitantes que não a lisboeta.

Durante o primeiro tempo, o Santos foi muito igual. Moroso, jogando muito para os lados, preferindo tentar romper pelo meio. Ao vagar com que os brasileiros puseram no jogo, respondeu o Sporting com uma vivacidade que não deveria, encontrar-se nas previsões, dos sul-americanos.

A defesa dos «leões» bem fechada, neutralizava, um a um os ataques, ao «relanti» do grupo de Pelé. Este e Coutinho, secundados por Álvaro, bera tentaram romper, no seu passe miúdo desfeitear o sector defensivo dos lisboetas, a que Julius emprestou uma colaboração que bem se casou cora a autoridade do «trio», Lino-Morato-Hilário.

Uma vez fechadas; as ofensivas dos brasileiros, o Sporting partia para o ataque. Apoiada, e bem, por Osvaldinho,. a linha atacante leonina, dava-se em se movimentar de tal modo que a defesa «santista» via-se e desejava-se para suster o seu ímpeto e desenvoltura.

Assim, apareceu o primeiro golo da partida, aos 13 minutos, num lance em que Hugo, com um toque subtil, colocou a bola ao alcance de Morais para este rematar vitoriosamente. O tento leonino, não chegando para quebrar o ritmo moroso do Santos, contribuiu, ainda, para que o Sporting, se mantivesse em plano de mais relevo, com o sector atacante, bem movimentado por Faustino, Fernando e Diego, a criar lances de perigo para as redes de Carlos, o guardião brasileiro. E, quando o intervalo chegou, a impressão causada pelo Santos não era de molde a justificar a fama de que vinha rodeado.

No segundo tempo, e enquanto as equipas apresentaram as mesmas formações iniciais, ainda o Sporting foi a de mais destacada iniciativa. O Santos, continuava, enervantemente moroso e os «leões» activos e mexidos a procurarem aumentar a marca.

E, o Sporting, fez o segundo golo. Morais correu pelo seu lado, passou Ramiro e de cima da «linha de baliza» centrou atrasado, por alto. Faustino, que seguiu o lance, em movimento, entrou bem de cabeça... e Carlos foi buscar o esférico ao fim da rede.

O Santos deve ter sentido o golo que alterava o marcador para 2-0, a favor dos lisboetas. Jair, entrou a substituir Fiote e a equipa brasileira , pareceu mais arrumada. O ataque tornou-se mais preciso, e embora um cansaço compreensível, dada a série de jogos que a equipa vem de disputar cm tão curto espaço de tempo, deu-se em lutar melhor, procurando rematar mais amiudamente.

Cerca do quarto de hora, Durval, correu pela direita, ultrapassou Hilário, centrando forte, a meia altura. Osvaldinho, virado para as suas balizas, tentou interceptar, mas a infelicidade levou-o a dar à bola o caminho do golo. Assim, chegou o Santos ao 2-1.

Já mais assente, a turma do Santos fez das fraquezas forças, e tornou-se mais profícua, com Jair a encher o rectângulo. E, a bola, perto da «grande área» do Sporting, passou a ser entregue a Pelé, para que este rematasse. Um, dois remates do campeão do Mundo e ao terceiro estava feito o empate. O poderoso atacante, recebendo o esférico de Jair, correu com ele, e rematou ao lado esquerdo de Octávio de Sá. Este, pareceu, por momentos, ter neutralizado com as mãos, o remate de Pelé, mas o esférico, prosseguindo, foi tocar as malhas. Estava feito o empate.

 

O TRABALHO DOS JOGADORES

JAIR SOBRESSAIU na equipa visitante

No conjunto, os brasileiros, embora revelando sempre perfeito domínio de bola, abusaram contudo das entradas menos leais, o que provocou alguns justificados protestos e constantes interrupções do jogo.

Uma e outra coisa, desagradaram completamente ao público que quase encheu o Estádio para ver em acção os paulistas e, especialmente, d «estrela» da companhia, o campeão mundial Pelé.

Este jogador não jogou, certamente, o seu melhor revelando, no entanto, excelente domínio de bola e desmarcares oportunas. Não fez muito o «internacional» brasileiro, mas o que efectuou fê-lo com consciência, e a poucos minutos do fim, com um potente remate, obteve. o golo do empate.

Após a entrada em campo do «veterano» JAIR, que empunhou a «batuta», o conjunto do Santos melhorou consideravelmente e viu-se então a acção do mestre. As suas paragens e entregas perfeitas entusiasmaram a assistência.

O jovem COUTINHO não actuou até final do encontro, mas o tempo' que esteve no terreno chegou para patentear as suas reais qualidades.

Foram, ainda, DURVAL, muito rápido com a bola, ÁLVARO bom dominador e PEPE, com esplêndido sentido de oportunidade os jogadores que completaram o ataque do Santos.

A defesa pecou, e muito especialmente PAGÃO, por jogo rijo, o que tirou brilho á sua actuação.

Na baliza, CARLOS esteve seguro e arrojado, mesmo quando saiu aos pés de Faustino.

 

FAUSTINO O MAIS DESTACADO NA TURMA DO SPORTING

OCTÁVIO DE SÁ - Irregular. Duas ou três saídas em falso. No segundo golo pareceu-nos mal batido, pois deixou-nos a impressão de que chegou a ter a bola nas mãos.

LINO - Não deu tréguas a Pepe, travando bom despique com o extremo brasileiro. E foi em maior numero os lances que ganhou do que os que perdeu.

MORATO - Colocação, rapidez e bom despacho. Um defesa-central de bom estilo e óptima presença.

HILÁRIO - Mais ousado do que os companheiros e acusando a categoria de Durval. Mas, no conjunto, foi uma permanente utilidade.

JULIUS - Um médio de alto a baixo. Boas dobragens e uma vigilância a Pelé a chamar a atenção.

OSVALDINHO - Tirando todo o partido da lentidão do ataque brasileiro, o n.º 6 dos «leões» atingiu plano de realce, quer na ajuda á defesa, quer no apoio ao ataque.

HUGO - Vivo, mas demorando um tudo nada a posse do esférico. Alguns centros de boa marca e um passe magnífico a Morais para este fazer o golo.

FAUSTINO - Bom domínio de bola, desmarcações a propósito e toques precisos, com o esférico em movimento. Um óptimo golo de cabeça. Elemento para vir a dar que falar.

FERNANDO - Movimentou-se bem, trocou a bola com a-propósito, mas parece abusar um pouco na retenção do esférico. Talvez remate pouco, mas joga muito.

DIEGO - Pontou q jogo do ataque e saiu-se bem. Ajuda aos médios utilíssima, cumprindo, cabalmente a missão.

MORAIS - Expedito e com boa velocidade. Ramiro, o defesa-direito adversário,. viu-se em dificuldade para o segurar. E, raramente o conseguiu. Fez o primeiro golo, derivando para o meio do terreno no momento próprio.

POMPEU - Jogou 10 minutos e no pouco em que interveio esteve certo.

 

 

ENTRE OS BRASILEIROS

O SPORTING «BATE DURO» E JOGA O FUTEBOL - diz PELÉ que está saturado

 

Extenuados e ainda vivendo as peripécias dp jogo, os brasileiros não deixaram de revelar a sua gentileza para com a Imprensa e Rádio, que invadiu os seus vestiários.

A um canto, quase despercebido, deparámos com COUTINHO, o mocinho de 16 anos, já «estrela» do futebol carioca, revelou:

- Foi um jogo disputado com ardor e velocidade, que me agradou, pois o Sporting provou ter grande «team» e uma «torcida que o ajudou muito.

- O empate está certo?

- Um resultado que saiu assim, justo não é? Mas nós não jogámos lá muito bem. Porquê não sei. Mas são jogos uns atrás dos outros, não acha?

- Por que foi substituído?

-Saí porque tinha «reserva» para entrar. Pois tenho 16 anos e continuo a ser ainda «guri»...

-Conhece alguns dos seus compatriotas que alinharam pelo Sporting?

- Sim, o Faustino e o Fernando desde o Brasil. Foram até meus adversários lá... São bons jogadores e o Faustino deu espectáculo.

Passámos depois a PELÉ, o discutido .«crack»’ campeão do mundo, que 1 nos surpreendeu com a maneira fácil de se expressar. Começou por dizer acerca da partida:

- Foi um bom jogo, mie seria melhor se tivesse um árbitro á altura. Prejudicou as duas equipas e o jogo, por não deixar seguir bola.

E confessou a seguir:

- O resultado está justo. Futebol é assim mesmo. O Sporting «bate duro», corre muito e joga bastante futebol. Gostei muito de Diego, Osvaldinho e Faustino, este um bom jogador, que já conhecia «di lá...».

- A sua .exibição, Pelé?

- Não agradou. Estou saturado, três jogos por semana é muito...

- Diz-se que vai ingressar no Madrid, é verdade?

- Isso é uma conversa que saiu. Comigo não conversaram nada. É melhor ficar por aqui...

E, acrescentou:

- A minha profissão é «crack» e tenho família para criar - meu pai e minha mãe. Quero jogar na equipa que pagar melhor. Depois lutarei pela sua camisa...

Na cabina encontrava-se o treinador OTTO GLÓRIA, a quem pedimos para falar do jogo, o que logo acedeu, para dizer:

- O resultado está certo, atendendo àquilo que os grupos jogaram. O Sporting esteve melhor no primeiro tempo, mas o Santos revelou-se na parte final, sem dar uma ideia exacta daquilo que pode fazer.

E, prosseguindo:

- Os jogadores brasileiros sentem-se muito cansados e além disso o Sporting não deixou jogar, lutando com ardor e jogou mesmo bem.

 

NA CABINA DO SPORTING

A ENTRADA DE JAIR MODIFICOU O JOGO

- opinião do dr. Oliveira Martins

 

Assistimos .ao jogo ao lado de VADINHO, a quem , no final pedimos opinião. O brasileiro do Sporting expressou-se assim:

- Futebol é uma coisa de mistério. O Sporting merecia um resultado bem melhor, porque jogou bem.

E, referindo-se ao Santos:

- É uma equipa muito boa, mas não está jogando bem. Acredito que joguem mais do que mostraram hoje em Alvalade. Obteve um resultado honroso.

Já na cabina, ouvimos o dr. OLIVEIRA MARTINS, dirigente «leonino», que nos disse:

- Foi um espectáculo agradável, que só não ganhámos por infelicidade. A entrada de Jair, verdadeiro mestre da bola, veio modificar o jogo e dar «vida» ao famoso Pelé, que acusou a soma de jogos feitos nesta digressão do Santos à Europa.

Depois, ouvimos o treinador IMBELLONI, que foi rápido na análise ao jogo:

- Não posso fazer uma apreciação justa do Santos, depois da equipa fazer tantos joges... Não me deslumbrou, embora o jogo me tenha agradado e ache bem o resultado fina!

- Pelé e Coutinho?

- Não os vi. Jair é que é, sem favor, a «vedeta» do grupo.

Por fim, perguntámos a OCTÁVIO DE SÁ sobre os golos sofridos. O guardião «leonino» retorquiu:

- O primeiro resultou »de um golpe infeliz de Osvaldinho e, o outro, foi o Pelé quem o rematou, não me sendo possível evitá-lo por estar «tapado»...

- Quanto aos brasileiros?

- Mostraram muito cansaço. Jair e Pepe, melhores do que Pelé e Coutinho, que só se revelaram em certos pormenores do jogo. Quando tiverem a experiência de Jair, devem vir a ser um caso sério...

 

In.: Record, n.º 832, de 20 de Junho de 1959, p. 3

Aos vencedores foram oferecidas medalhas

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“Realizou-se domingo [14 de Setembro de 1902], na Quinta da Fonteireira em Belas, [Quinta pertencente à família Pinto Basto onde, por via do parentesco da minha avó paterna, eu passava umas divertidas jornadas em pequenino], o match de «Foot-ball» entre o Sport Clube de Belas [dos irmãos Gavazzo] e o Foot-ball Clube Peninsular, ficando este último a vencer por 6 goals contra 1. Aos vencedores foram oferecidas medalhas. O grupo vencedor compunha-se: goal-keeper, J. Lisboa; backs, E. Tito e F.G. Vieira; half-backs, E. dos Santos M. do Nascimento e Afonso Ortis; forwards, Abel Macedo, David Fonseca, C. Botelho, G.P. Basto e R. Pereira; refere, J. G. Vieira.

In “História do Sporting Club de Portugal" de Luís Augusto da Costa Dias com Paulo J. S. Barata – Contraponto

«Parece que já os estou a ver, diz o sr. Anastácio...

... a bola é posta em jogo e os nossos avançam como leões!

Coates (1) recebe a bola e passa a Quaresma (2), Quaresma (2) dribla Alex Teles (3) que se estende ao comprido e passa a Nuno Mendes (4), Nuno Mendes (4) recebe a bola e passa a Wendel (5), Wendel (5) passa a Plata (6), Plata (6) centra e Jovane (7) completamente isolado, corre para a baliza e chuta, golo!

Golo!”. E derruba o tampo da mesa.

“Ai meu Deus, que aconteceu? Mas que foi isto?” diz a sua mulher Carlota ao entrar de rompante na sala.

“Foi o senhor Anastácio que meteu um golo.»

 

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(1) - Canário no original. (2) - Travassos no original. (3) - Guilhar no original. (4) - Vasques no original. (5) - (Wendel) Albano no original. (6) - Jesus Correia no original. (7) - Peyroteo no original.

 

Operário e futebolista assassinado pela própria mãe

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Hoje, dia 1 de Maio, celebra-se o dia do trabalhador.

Há um sinónimo de trabalhador que me interessa, especialmente, operário (do latim operor; trabalhar, ser eficaz, produzir).

A imagem que ilustra este texto foi obtida hoje perto do Largo da Princesa, Belém, um espaço geográfico que os pés descalços de José conheceriam.

Um operário vestido de azul ganga durante a semana e vestido de azul com a cruz de Cristo no domingo.

Estreou-se na equipa principal do Belenenses num jogo contra o Benfica com apenas 16 anos recentemente completados. A quinze minutos do final o Belenenses perdia por 4-1, mas, a equipa deu a volta ao resultado e venceu por 5-4. José Manuel Soares tornou-se de um dia para o outro um ídolo popular.

Entre 1926 e 1931, transformou-se na maior estrela do futebol português do seu tempo. Avançado felino, tem o recorde de golos num só jogo - 10 ao Bom Sucesso - e quando se estreou pela selecção portuguesa com dois golos à França, com meros 18 anos, "foi o delírio" nas "ruas mais pobres de Belém", como lemos em A História do Futebol em Lisboa: "representava a alma do Bairro, o seu orgulho e a sua vaidade." O momento de maior glória chegaria com a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1928.

No dia do primeiro jogo, com o Chile, uma multidão encheu as ruas no centro de Lisboa, lendo as edições especiais dos jornais, ou observando o painel no Rossio onde a partida foi acompanhada num directo pré-televisão, com um homem, em contacto com Amesterdão, assinalando com um íman e com a precisão possível os avanços e recuos da bola no campo.

Portugal vence 4-2, ele marca e é decisivo nessa e na vitória seguinte, frente à Jugoslávia. A contestada derrota com o Egipto no terceiro jogo [um golo invalidado a Portugal] não maculou em nada o seu prestígio,  estrela maior do futebol de então; nos campos era um ídolo, fora dele, um simples operário no Centro de Aviação Naval do Bom Sucesso.

Como depreendemos pelo título foi a mãe que o matou, num dia de infelicidade, a solidariedade da bairro operário em que viviam (é interessante pensarmos em Belém como um bairro operário) funcionou e a pobre senhora que, apenas, trocara o sal por soda caústica* para fazer uma sopa, nunca foi acusada de nada embora os vizinhos soubessem o que acontecera.

Chamava-se José, passou para a posteridade como Pepe, um operário que morreu por comer sopa.

*a soda caústica era utilizada em conjunto com areia para "arear" tachos e panelas, é muito semelhante ao sal e a sua ingestão é mortal.

Bibliografia: https://www.publico.pt/2011/08/28/jornal/dois-bairros-e-uma-bola-uma-historia-de-futebol-22756853

http://blogoexisto.blogspot.com/2006/10/lenda-do-pepe.html

O Sporting não precisa de heróis

José de Pina descreve, e muito bem, a alucinação em que alguns Sportinguistas vivem, acreditando que o Sporting só nasceu em 2013. Já antes, desde sempre, o Sporting sempre foi grande! E, desde sempre, houve gente a lutar contra o sistema que se instalou no futebol nacional.

O Sporting não precisa de heróis, muito menos de Dons Sebastiões. O Sporting precisa é de todos os seus adeptos a pensarem no Sporting e não divididos entre o "Sporting de A" e o "Sporting de B". Sporting há só um, o Clube de Portugal!

 

Andou ao engano

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Um ex-presidente do Sporting veio dizer que o Sporting Clube de Portugal sempre foi uma monarquia e só fez uma pausa entre 2013 e 2018. Curiosamente também disse que foi durante esse período que mais se enalterceram os valores do Sporting.

Ora, se o Sporting sempre foi uma monarquia com todos esses defeitos, de que serve enaltecer os valores definidos pelos "nefastos" monarcas?

Durante esta quarentena tem-se visto muitas fotografias das campanhas europeias do Sporting com o velhinho José de Alvalade cheio. Inclusivamente ganhámos uma Taça europeia no "tempo da monarquia".

O Sporting, com as suas qualidades e defeitos, nasceu em 1906 e desde então sempre foi enorme. Querer reduzir a sua grandeza ao período pós-2013 é um periogoso reescrever da história. Se não percebeu isto, andou claramente ao engano.

José de Alvalade...

... foi, aos 33 anos, uma das vítimas da grande pandemia do início do século XX, a gripe pneumónica - vulgarmente designada por gripe espanhola -, falecendo a 19 de Outubro de 1918. Hoje, infelizmente, vivemos uma situação pandémica similar, menos grave - é certo, os tempos são outros -, mas igualmente preocupante. O apelo que aqui deixo, olhando para o fundador do nosso clube, é que todos, sublinho TODOS, sigam as recomendações das autoridades de saúde, para que nos possamos a encontrar neste espaço e a opinar sobre este clube, que é a nossa fé. Copiando 'as gordas' de um jornal de hoje, creio que o SOL, deixo o meu conselho: Vacinem-se: não saiam de casa. Ou então limitem os seus movimentos ao exterior ao estritamente necessário - apesar do dia magnífico convidar ao contrário. Fiquem em casa, de preferência na nossa companhia, pois aqui podem encontrar uma imensidão de textos que vai, com certeza, prender a vossa atenção. Tudo de bom, para todos.

A pena que eu tenho!

Tenho andado afastado da escrita sobre o Sporting.

Todavia lamento que o clube do qual sou sócio e de que me habituei a gostar e a conviver durante mais de 60 anos, viva momentos tão pobres, tão tristes e em tamanha guerrilha que não honra, em nada, a sua longa história nem me faz sentir orgulhoso de pertencer a este clube.

Pode parecer exagerado, mas é o que sinto neste momento.

A culpa de se ter chegado a este ponto é minha, é tua, é de todos nós, sócios e adeptos.

Mas o que aqui me trouxe hoje especialmente prende-se com um acontecimento que se deu há duas semanas na minha vida. Fui avô de uma menina.

Quando o meu filho mais velho nasceu, fui a correr a Alvalade inscrevê-lo como sócio do Sporting. Hoje ainda não o fiz com o mais recente elemento da família.

E não tem a ver com o ser do sexo feminino, que actualmente nestas coisas de adeptos as raparigas são tão ferverosas quantos os rapazes.

A questão é bem diferente e associa-se à ideia de como posso incitá-la a gostar de um clube que vive (quase) exclusivamente de um passado longínquo.

Poder-se-á falar do ecletismo do Sporting, da formação ou mesmo dos diversos campeonatos europeus em diferentes modalidades, mas sendo o futebol a roda maior deste complexo relógio continuo sem saber como a convencerei a tornar-se, não só sócia como, principalmente, adepta!

Lagartos e lampiões (reprise)

 

(Em 28.4.2012 coloquei aqui este postal. As estatísticas do blog mostram que continua a ser muito visitado, através dos sistemas de busca informática. É uma boa razão para replicar esta curiosidade histórica, uma versão da origem das alcunhas dos adeptos dos grandes clubes lisboetas. Algo que pensara fazer, até por proposta do Pedro Correia. Hoje, ao ver estas gravíssimas notícias aqui relatadas, não pude deixar de pensar que é o momento adequado).

 

No seu mural de facebook o meu querido amigo Miguel Valle de Figueiredo, sportinguista imenso, dá a conhecer esta preciosidade, acompanhada da explicação:

 

"Daqui vem o nome "Lagartos", assim apelidados os títulos da subscrição para a construção do estádio "José Alvalade."

 

Aí mesmo um seu amigo, Jorge Roza de Oliveira, esclarece ainda:

 

"Lampiões nada tem a ver com as luzinhas atrás nos comboios, como se diz por aí. Nos anos 30, começo de 40, os sportinguistas começaram a chamar aos benfiquistas de lampiões, porque Lampião era nessa altura um famoso ladrão e bandido do nordeste brasileiro. E os sportinguistas achavam que o Benfica era muito beneficiado pelos árbitros e começaram a aplicar assim o termo lampião."

 

Irmanados nas alcunhas. No convívio da bola, por mais que tantos não o queiram assim.

Descobrir o Palácio numa sapataria...

 «Como a condessa de Sucena, proprietária do Palácio Foz, era cliente da sapataria Benigno Linares, sócio do Sporting, Retamosa Dias induziu-o a falar com ela. E, como conta Eduardo de Azevedo, resultou do facto facilitarem-se as negociações empreendidas por Carlos Basílio de Oliveira para a instalação do Sporting nas dependências do antigo Ritz. Ao fim de oito anos, em 1941, sem qualquer indemnização, o Sporting foi compelido a abandonar o Palácio Foz, para que nos seus espaços se instalassem os serviços do Secretariado Nacional de Informação (SNI), sob o comando de António Ferro.

 

O Sporting sempre se debateu com a dificuldade em encontrar um edifício que se adequasse à instalação da sua sede. Inerente à escolha da localização da sede sempre esteve ligada a questão da falta de centralidade do clube e a necessidade de aquela se instalar num local de fácil acesso para toda a massa associativa.

Em 1931, para se ganhar tempo e instalar o Sporting num local mais central, arrendaram-se duas salas no 5º andar do n.º 13 da Praça dos Restauradores, junto ao cinema Eden. Entretanto, o presidente Oliveira Duarte (...), intentava a solução, negociando com o Club Monumental a obtenção para o Sporting daquelas instalações. O contrato não se consumou e as diligências orientaram-se para uma casa na Avenida da Liberdade. Aconteceu então que Álvaro Retamosa Dias anunciou a possibilidade de se arrendarem as dependências do antigo Ritz, no Palácio Foz, propriedade da condessa de Sucena.

As aspirações “leoninas” viriam a concretiza-se e, em 1933, o Sporting instalava a sua sede social nas sumptuosas dependências do Palácio Foz. Correspondeu à permanência de oito anos na sede social do Palácio Foz um período áureo de desenvolvimento integral do Sporting.»

 

In: Glória e vida de três grandes. A Bola, 1995, p. 90

21 de Agosto (1560 e 2017)

Por circunstâncias várias, cruzei-me numa biblioteca deste país com a obra de Ioannis de Sacrobosco Sphera impressa em 1518.

Esta obra que consultei tem, na contracapa da pasta inferior, notas manuscritas relativas a episódios geofísicos e astronómicos do século XVI.

Consegui reter a informação ali contida, porém pedi a uma pessoa amiga com um olho mais treinado para a leitura paleográfica que fez a seguinte transcrição:

--

«- Na era de 1531 a 25 dias do mes de Janeiro a hua 5ª feira de madrugada tremeo a terra e pella menhaa tornou a tremer [ou]tra ves.

- Na era de 1539 a 18 dias do mes de Ab[ril] a hua 6ª feira as duas horas depos do meio dia foi hu sol cris  das 12 par[?] as du[?] pouco mais.

- E na dita era no mes de Maio apareceo hu cometa o qual foi sinal de mortes de grandes senhores e no primeiro dia do dito mes se finou a emperatr[iz].

- Na era de 1560 a 21 de Agosto a hua 4ª f[eira] as 11 horas do dia foi todo o sol cris, e se escureceo todo e durou todo esc[u]rcindo por espaco de hu meio quarto de hora e com[?] as [?] as horas [?] e tres quartos pouco mais ou menos.»

--

Peço a atenção para a última das notas, a ocorrência de um eclipse e para a palavra cris, hoje em desuso. A observação deste fenómeno foi feita em Coimbra por Cristopher Clavius.

 

Pois bem,  hoje é, igulamente, 21 de Agosto, e também ocorrerá, ao final do dia, um eclipse, porém não tão visível como o de 1560.

 

 

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