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És a nossa Fé!

Alargamento: um erro estratégico

 

Acabei de ler uma crónica da autoria de um economista de Lisboa em que ele adianta uma análise interessante sobre o futebol português e com margem para discussão fértil. A sua contenda é assente na premissa de que o desporto nacional tem vivido «num constante défice estrutural e sempre em fuga para a frente. Esgotadas algumas receitas de 'financiamento' logo outras se inventam. Contudo, como vivemos agora também numa crise conjuntural, obviamente o futebol acaba também por sofrer ainda mais porque já tem um crónico défice estrutural».

Um pouco mais adiante, comenta a sua estranheza ao discurso insistente, por parte de dirigentes, no alargamento das duas ligas profissionais de futebol, «como se essa fosse a varinha mágica para a resolução dos problemas desta modalidade profissional no nosso país. Se na actualidade os jogos com poucas centenas de espectadores são em grande número, nas duas ligas, pretende-se aumentar esse número de jogos cujas receitas não cobrem as despesas inerentes. Isso é contribuir para o agravamento do défice, pois só os jogos em que intervêm os 'grandes' clubes têm assistências dignas, excepção feita aos jogos entre eles que enchem os respectivos estádios. Afinal, quem acaba por financiar a Liga são os grandes, mas mesmo assim o défice deles é enorme».

Desconheço a profundidade da experiência do autor com futebol, mas ele sugere o seguinte:

«i) Uma I Liga constituída por 10 equipas, em vez das 16 actuais e das 18 pretendidas, e cuja prova seria disputada em 4 voltas, com 36 jornadas no total. No final, desceriam os últimos dois classificados da classificação;

ii) Uma II Liga que seria dividida em duas zonas - Norte e Sul - cada uma com 12 ou 14 clubes. Concluída a primeira fase, em que todos jogariam entre si e em duas voltas, os primeiros classificados de cada série (com o número de clubes a defnir) juntar-se-iam numa única série nacional e, a duas voltas, apurariam o campeão nacional da II Liga e as equipas elegíveis a promoção.»

Ele termina o texto afirmando que o alargamento é um erro estratégico sob a ilusória equação dos clubes pequenos, convencidos que com isso adquirem o equilíbrio financeiro. «Puro engano, como o comprovam as últimas épocas e o presidente da LPFP está «amarrado» a um compromisso que tomou no processo eleitoral, e por isso muitos dos clubes pequenos votaram nele, e agora não sabe como «descalçar a bota». Fuga para a frente até ao abismo?... Haja pois bom senso, em defesa do futebol, sem esquecer também a reorganização das competições «não profissionais», como parte integrante da pirâmide em que assenta o futebol.»

Novamente o «movimento de Fátima»

 

Os elementos que constituem o «movimento de Fátima» reinsistem na cadaverização do futebol nacional, pela mais recente deliberação em Assembleia Geral da Liga sobre o alargamento. Desta vez, com a adenda do sistema de «liguilha» para determinar os clubes que se vão juntar às duas principais competições. A moção foi aprovada com 35 votos a favor, onze contra e uma abstenção. Como já aconteceu pela primeira tentativa, a decisão terá que ser ratificada pela Assembleia Geral da FPF e pelo Conselho Nacional do Desporto, algo que deixa muitas dúvidas quanto à sua implementação.

Um dos principais líderes deste notório movimento é António Fiusa, presidente do Gil Vicente, que alega que o alargamento não vai contribuir para a calamidade dos salários em atraso e irá garantir que «mais dois clubes deixarão de cair ao Inferno». Além da plena falta de sustentabilidade factual quanto ao alargamento, em si, este dirigente ainda vem defender o presidente da Liga, clamando, por um lado, que ele não tem culpa dos salários em atraso, uma vez que só está há três meses na liderança mas, por outro, que «muito tem feito em prol da liga e dos clubes profissionais».

Acidentalmente, claro, omitiu o que  esse «muito» significa, face à inexistência de quaisquer melhoramentos palpáveis. Não ficando satisfeito com estas maquinações, ainda sentiu a necessidade de gritar aos céus que a união dos clubes pequenos é indicativa do «fim do tempo da subserviência aos grandes», bem esclarecido pela eleição de Hermínio Loureiro contra os maiores interesses prosseguindo pela de Fernando Gomes tanto para a Liga como para a Federação «contra os lobbies instalados». É uma afirmação risória, no mínimo, porque se não foram estes lobbies que o elegeram, será melhor iniciar uma investigação penetrante para determinar exactamente como é que veio a ocupar os dois tronos soberanos do futebol português em apenas quinze meses.

Em última análise, só é possível sublinhar a vincada ausência de competência e integridade que prevalece no dirigismo desportivo, estado que impera ser erradicado de uma vez por todas, para evitar a inevitável deterioração de uma situação que já pouco de positivo apresenta. A solução há longo reconhecida passa, indubitavelmente, pela extirpação desses insólitos dirigentes do mapa futebolístico.

Paixão por Bruno

Bruno Paixão encontrou enfim um advogado de defesa: o presidente do Gil Vicente acaba de enaltecer a "excelente arbitragem" ocorrida no jogo de segunda-feira, em que o Sporting foi escandalosamente espoliado.

Reconheça-se: António Fiúza tem o mérito de se mostrar grato a quem o beneficia. Ao menos este atributo temos de reconhecer a quem, com a mesmíssima lógica com que agora elogia o pior árbitro português, ainda há pouco tecia loas ao absurdo alargamento do número de clubes na Liga - que felizmente não se concretizará - como uma "grande vitória" do desporto-rei. E sugeria até que os "grandes" fossem "competir para Marrocos", o que diz muito sobre o que vai naquela cabeça.

Esta paixão dupla de Fiúza - por Bruno e pelo alargamento - é muito esclarecedora. Ao ponto de me apetecer até citar Gil Vicente, o verdadeiro. Aquele que pela boca do Joane se exprime de forma tão expressiva no Auto da Barca do Inferno. Não fala de futebol, mas está lá quase tudo quanto Fiúza merece escutar depois de se ter pronunciado como pronunciou.

A «linguilha»

Terceira versão do 'alargamento' da proposta liga FF (Fiúsa/Figueiredo), do jornalista de A Bola ou do dirigente ligueiro, não se sabe bem: uma «linguilha»!. Depois do chumbado 'alargamento' e depois da chumbada proposta de Figueiredo para alargar com «liguilha», propõe-se uma «linguilha» (não é gralha não, está entre aspas no título da peça, a pags.31, e 4vezes4 no corpo da dita). De onde virá a palavra? De língua, de linguado? Ou será uma tradução de «liguilha» em siciliano?   Talvez o dicionário de português do Jeffrén nos ajude.

piu, piu

Sobre o alargamento dos clubes na Liga Sagres Zon, a águia nem um pio.

Vai-se ler o comunicado saído da Assembleia Geral da LPFP e, além do grande tema,  topa-se com esta deliberação, que por acaso passou ao largo da atenção dos midia: “Mandatar o Presidente da Liga para fundamentar num estudo económico a preparação da instrução de uma eventual queixa – a deliberar em reunião futura - na Direcção Geral da Concorrência da Comissão Europeia, até 30 de Junho de 2012, que tenda a declarar nulos os contratos de cessão de direitos de transmissão televisiva dos clubes participantes nas competições profissionais de futebol em Portugal e permita centralizar a negociação desses direitos na Liga Portuguesa de Futebol Profissional.”

Uma semana antes da magna reunião a Benfica SAD enviou este comunicado à CMVM.

Olha que giro, uma coincidência…

Cá para mim se a águia abrisse agora o bico saía-lhe um cacarejo.

O Robin dos Bosques

A história do alargamento das competições profissionais vai ser uma novela, como se depreende da própria decisão da AG da Liga, das posteriores ameaças do presidente do Gil Vicente e da entrevista matreira do presidente da Liga à Reuters.

 

No meu entendimento, a manobra foi a seguinte:

1. Tomada da Liga pelos pequenos clubes e com o seu voto maioritário, pelo populismo do alargamento sem despromoções (I e II ligas) - votos garantidos dos clubes em situação de dúvida, quanto à permanência, nomeadamente dos que estão em péssima situação financeira;

2. Tomado o poder, como financiar os clubes, então, em tempos de crise? Retirar aos ricos parte do que eles recebem de receitas televisivas, através de uma equidade aparente («os ricos que paguem a crise» ou Robin Mário Wood do nosso futebol) e de um eventual aumento do bolo das receitas televisivas, pela centralização da sua negociação na Liga - estando esta nas mãos do novo poder;

3. Como o presidente da Liga é jurista e sabe as limitações jurídicas, regulamentares e éticas da manobra, propor uma liguilha (talvez mais justa, como ideia, mas inviável desta forma, como ele sabia à partida) - lavando daí as mãos, i.e., fingindo que o acordo com os clubes, para a sua eleição, não era o que era (não haver despromoções), mas sim a 'possibilidade' de as haver através de uma liguilha; 

4. Com boa tática de advogado, Mário Figueiredo poderia argumentar, depois, para manter as aparências (pilatianas), como o fez na entrevista à Reuters: eu propus uma coisa, os clubes é que quiseram outra (i.e.: o que de facto tinha sido combinado com eles, em sede de programa eleitoral); hipocrisia pura;

5. Remeter depois a argumentação da questão ética da verdade competitiva (uma questão e A questão em debate) para a outra de uma divisão mais equitativa do bolo televisivo, pela tal centralização na Liga da sua negociação - fechando o círculo da manobra e protegendo um passo duvidoso com outro aceitável.

 

É evidente que os argumentos, na questão do alargamento, não se ficam por aqui, para sermos justos. Para os pequenos, o acréscimo de jogos resultante do se passar de 16 para 18 clubes em cada competição (até mais, na II Liga, por via das equipas B) levaria a mais jogos (de 30 jornadas para 34, um mês mais a competir). Isto é, potencialmente mais receitas, menos meses no zero-receitas, um fardo para os clubes. O problema, neste caso, é saber se, na atual conjuntura, este é o momento para mudar e mudar deste jeito. Para além da ética da competição - que os próprios regulamentos da FIFA acautelaram em 2007 (creio) - há a ter em conta a especial situação economico-financeira do País. Os proveitos dos clubes vão diminuir dramaticamente nos proximos tempos e nem a centralização da negociação das receitas televisivas deverá ser suficiente para garantir a sustentabilidade de todos. E não é certo, sequer, que o reeditar Robin Wood seja suficiente. Mas, nadando em passivos, muitos clubes estão numa fuga para a frente. Vêm aí grandes guerras. Fiuza dixit.

Para dar cabo do futebol em Portugal

Se bem me lembro o sr. Mário Figueiredo foi eleito Presidente da Liga de Futebol com alguma surpresa geral. Se também a memória não me falha, a sua vitória deveu-se ao facto de ter feito um trabalho de formiga, granjeando o apoio maioritário dos pequenos clubes, prometendo o alargamento da liga para 18 clubes.

Houve quem pavlovianamente rejubilasse com esta patuleia em que triunfaram os pequenos contra os grandes. Para mais o sr. Mário Figueiredo defendia os pequenos interesses contra os grandes interesses. Sucede que neste caso small is ugly, porque os grandes interesses correspondem aos interesses da maioria dos adeptos, ao passo que os pequenos e paroquiais interesses são meramente  políticos.

Na linguagem crua do negócio, dir-se-á que foram defendidos os interesses dos pequenos fornecedores contra, e lesando bastante, os interesses da maioria dos clientes. Nada de novo em Portugal, é sempre isto que costuma acontecer.

Para não dizerem que falo no ar fiz uma breve análise a partir dos dados apresentados no site da Liga. A métrica utilizada foi a do número de espectadores dos estádios de futebol desde a época 2007-2008 até à época 2010-2011, as únicas disponíveis no dito site. Comparam-se para cada época o total de espectadores com o total dos 4 clubes com maiores assistências e com os 4 clubes com menores assistências.

A disparidade entre o topo e a base é gigantesca e apostava singelo contra dobrado que não tem paralelo na Europa futebolística. Os 4 clubes com mais espectadores são frequentados em média por 74% (!!) do total de espectadores de futebol em Portugal.

No topo, além dos óbvios 3 grandes, só na época passada surge o Braga em detrimento do Vitória de Guimarães. Na base é interessantíssimo verificar que o Paços de Ferreira, o Nacional e a Naval surgem em todas as 4 épocas entre os que têm mais baixa assistência. Depois lá vêm o Estrela da Amadora enquanto não desceu e o Rio Ave depois de subir.

 

Ao aumentar de 16 para 18 o número de clubes participantes na Liga Sagres Zon a partir da parte de baixo da tabela (não consta que ele vá convidar o Real Madrid e o Barcelona a participarem no campeonato português…) o sr. Mário Figueiredo garante aumentar esta absurda disparidade. O que ganham os grandes clubes? Pouco. O que ganham 74% dos adeptos? Nada. O que ganham os interessezitos locais (presidentes de câmara, dirigentes do Desportivo, influentes da terra, empreiteiros da zona, etc…)? Peso. Um peso em nada correspondente à sua influência no negócio, perdão, no futebol.

O 'alargamento' da vergonha

Desde que a Liga de Clubes Profissionais de Futebol foi criada, que ela não tinha um momento tão negro como este de um 'alargamento' em pleno curso competitivo. Nem é preciso escrever muito para provar que é uma decisão anti-desportiva, de ética competitiva totalmente falseada. A 'decisão' foi tomada contra as conclusões do estudo pedido à UnivCatólica, sobre o quadro económico e financeiro do futebol profissional atual (quadro grave). E apenas responde à eleição populista de um presidente da Liga, estribado nos votos dos clubes que estão com a corda na garganta, os quais ele seduziu com a ilusão-promessa de que nenhum deles desceria de divisão este ano.  Muitos desses clubes não pagam aos seus atletas, conseguem ultrapassar a sua insustentabilidade obtendo declarações falsas de não dívida e outras habilidades, etc., etc. Imagina-se que será os clubes saberem que não vão descer, transformando a ultima terça parte da prova num jogo de faz de conta? Felizmente, a 'decisão' de 'alargamento' tem de passar pela FPF e pelo Conselho Nacional do Desporto, o que deixa uma réstea de esperança a quem não deseja que o campeonato se transforme num quadro competitivo siciliano. Alargar, com critério e respeito pela ética competitiva, seria uma coisa. Com golpes de mão mafiosos, será outra. Felizmente, o SCP foi o primeiro clube a dizer, publicamente, que votou contra. Valha-nos isso!

Alargamento da liga: decisão errada no momento errado

A Assembleia Geral da Liga aprovou o alargamento do escalão principal do futebol para 18 clubes. De acordo com a deliberação, esse alargamento implica que não ocorrerão descidas de divisão na 1ª Liga. A concretizar-se esta situação, a verdade desportiva está irremediavelmente comprometida. Não é preciso um estudo detalhado para perceber que as equipas que lutam para não descer encararão o que falta da competição com uma intensidade diferente. Jogar a feijões não é o mesmo que lutar pela sobrevivência. Quem acreditará, nestas circunstâncias, nos resultados finais do campeonato? Entretanto, o problema da decisão não é apenas o do tempo em que foi tomada. Independentemente disso, a consequência natural do alargamento será a do nivelamento por baixo da competição. As equipas com jogadores que participam em competições internacionais a nível de clube ou de selecção vivem já uma situação de pressão extrema de calendário. As dificuldades que todos enfrentam não permitirão o investimento em planteis mais extensos. A consequência será a diminuição da qualidade dos espectáculos e a perda da competitividade na Liga Europa e na Champions. Perante isto, resta esperar que a Federação e o Conselho Nacional do Desporto intervenham no sentido de preservar os interesses fundamentais da competição que, de outra forma, serão profundamente afectados.

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