Pé-frio maligno
Quando me sentei com os meus filhos a ver a final da Taça disse-lhes logo: isto é para o Braga, com o pé-frio do Peseiro do outro lado. E elaborei um pouco mais a teoria: eu sei do que falo, este já foi o nosso pé-frio e, com ele, acontece sempre merda (bem, não usei este termo em frente às crianças, mas foi o primeiro que me veio à cabeça). Estava a brincar, mas a verdade é que não foi preciso muito tempo para a teoria ficar empiricamente provada: dois momentos de aselhice, dois golos do Braga; o Porto consegue levar o jogo para penáltis, mas ingloriamente. Peseiro vintage.
Eu lembro-me bem do pé-frio do Peseiro porque foi com ele que começou o mais recente ciclo negativo do Sporting. Em 2005, o Sporting podia ter ganho o campeonato e a Taça UEFA (esta em Alvalade, meu Deus!) e perdeu os dois títulos em cima da recta da meta. Repare-se: uma vitória em 2005 dava, à época, metade dos campeonatos do século XXI ao Sporting e estabelecia uma linha de normalidade nas vitórias: 2000, 2002, 2005. Uma vitória europeia fazia do Sporting o outro clube português, para além do Porto, a ter uma vitória europeia recente. Não custa imaginar o afago psicológico que isto não teria sido, para um clube ainda há pouco saído dos 18 anos seguidos de seca. Em vez disso, instalou-se um fatalismo que ainda não abandonou Alvalade. O pé-frio do Peseiro pode ser maligno e nós sabemo-lo bem.