Notas soltas sobre a crise
Estava a escrever um grande lençol sobre a crise quando parei a meio, porque me pareceu uma chatice. Felizmente, tanto o Adelino Cunha como o Paulo Gorjão escreveram boa parte do que quis dizer no dito lençol. Acrescento só uma ou duas notas soltas:
1) Quebrou-se um certo elo privilegiado entre os sócios/adeptos do Sporting e este presidente. E por uma razão simples: ele foi eleito para não repetir erros do passado. Mas nas últimas semanas levou-nos pela sua própria mão de volta a esse passado. O presidente "que percebe os sportinguistas" desta vez não os percebeu.
2) O povo do Sporting (como lhe chama o Adelino e como tentei dizer aqui) percebeu antes do presidente os erros que não se podem repetir. O presidente tem agora uma oportunidade para aprender esta lição popular. Se a aprender, juntará uma nova forma de governar a tudo o que já fez de bom pelo clube. E isto inclui uma certa forma de se dirigir para o exterior, que teve muita utilidade ao início mas que agora ameaça tornar-se cansativa e infrutífera. Afinal, também ele ainda não tinha percebido muito bem o que é o Sporting. Talvez agora tenha realmente percebido.
3) Parece-me que Marco Silva também aprendeu. Ontem, deixou-se de lirismos e apostou numa equipa mais realista. Mais assente na defesa, sem deixar de ser perigosa no ataque. Também ele ficou prisioneiro do povo do Sporting, dado o partido que o povo tomou por ele. Isso talvez o leve a menos romantismos e afirmações de personalidade em campo, só para provar certos pontos. Da crise, é capaz de ter nascido uma equipa mais sólida.
4) Quem não gosta de Bruno Carvalho e quem não gosta do Sporting ganhou um herói sportinguista: Marco Silva. Vão passar a ter de torcer por ele, porque se empenharam a lutar por ele nesta crise. A imprensa do Sporting vai, por isso, melhorar. Isto é cínico? Pois é, mas quem disse que o cinismo (como a ingenuidade, no extremo oposto) não contém uma parte de verdade?