Fúria de perder
«Em Portugal, quem perde pontos, arranja sempre teorias da conspiração para justificar os seus fracassos (...) Quem joga bem, normalmente é recompensado.» Palavras pertinentes de Domingos Amaral, redigidas em Setembro. Palavras que parecem ter sido escritas a pensar no Domingos Amaral de Maio, que escreveu o mais lamentável de todos os textos destinados a lamber as feridas da derrota do Benfica em Turim.
Ao apontar o dedo acusador a Beto e Carriço para justificar o fracasso benfiquista, sobretudo nos termos grosseiros e destemperados em que o faz, Domingos Amaral demonstra ser um péssimo leitor dos seus próprios textos. Já esquecido do que escreveu há sete meses: «Há uma disfunção motivacional claríssima no Benfica: Vieira diz que os jogadores são tão bons, que eles se tornam convencidos, blasés, e depois não conseguem ganhar jogos fáceis. O Benfica não tem fúria de vencer.»
O problema estará precisamente aí: na disfunção motivacional claríssima. Não em Beto nem em Carriço, que se bateram como leões na final da Liga Europa e só por isso deviam merecer mais respeito de quem há uns tempos gozava com as «teorias da conspiração» dos clubes que contestam as más arbitragens e agora, em flagrante contradição com essas palavras, atira-se ao «alemão que arbitrou o jogo».
É quase como São Tomás. Mas neste caso, ao contrário do que recomenda o ditado, não faças o que ele diz nem faças o que ele faz.