Das responsabilidades do "caso Alcochete"
Convém ler esta notícia, já com um mês, explicitando que o presidente ameaçara os jogadores com as claques (já agora, constou que no princípio da sua presidência fez o mesmo aos bancos, coisa que não sei se "mito urbano" se verdade histórica). É evidente que haverá sempre quem negue a notícia: o querer crer é uma intelectualite pandémica, e isso ainda segura alguns crentes em BdC. Mas é explícito que a indução do ambiente que levou a toda esta desgraçada desagregação foi obra do actual presidente - não, não estou a afiançar que BdC convocou a milícia para assaltar Alcochete, estou a dizer que propositadamente, como estratégia de exercício presidencial, "empoderou" (como se diz agora) as milícias clubistas. As quais, assim empoderadas, terão excedido, devido às suas características, os próprios desígnios do seu aliado máximo e protector.
Contrariamente ao que muitos querem crer e fazer crer, este ambiente de turba violenta não é uma maleita absolutamente minoritária. Lembro-me que há alguns meses um sportinguista, meu amigo-FB, me inscreveu num grupo sportinguista no FB. Nas minhas primeiras entradas vi ali a partilha de um filme (de facto era um "canal youtube", portanto uma coisa periódica, com seus inúmeros seguidores), no qual um "claquista", ao que parece relativamente afamado nesse tipo de meios, qual líder cultural, perorava do estrangeiro, apelando à coacção física sobre os árbitros e similares, partilhando dados de identidades pessoais (não me lembro dos detalhes, mas seriam telefones e moradas de residências e de cafés ou restaurantes frequentados por agentes do futebol). Aquilo era partilhado por membros do grupo. Sem qualquer comentário crítico, distanciador pelo menos, por quem o partilhava. Colhia imensas anuências ("likes", na gíria do suporte FB) e fiadas de comentários elogiosos (tipo "assim é que é!").
Critiquei aquilo, indignado, e saí de imediato do grupo. Para de imediato ser confrontado no meu mural-FB por gente do grupo, depois de terem vindo vasculhar os meus textos aqui (treslendo, pois gente algo iletrada, incapazes de acederem às mais evidentes das ironias), com as tradicionais acusações de anti-sportinguismo (isto foi antes da celebrização do termo "sportingados"). É importante lembrar isto, pois aquele grupo tinha milhares de participantes, sportinguistas, todos aceitando com placidez, sem ponta de indignação, e assim coniventes, a partilha deste género de mensagens, esta abordagem ao futebol, este modo de "ser", este "sportinguismo". Muitos provavelmente escudando-se num "eu não concordo, mas é normal ... democrático, que haja opiniões diferentes", ou na reclamação de que "nos outros clubes também há disto". Assim coniventes com a expansão desta cultura marginal e violenta entre adeptos. Do clube. Do futebol. Na sociedade. E neste caso quem diz coniventes diz cúmplices.
Ou seja, se concordamos que é insuficiente dizer que isto "é chato", como o tresloucado BdC resume, também é preciso concordar que isto, a cultura da violência e do revanchismo, o fazer do futebol o coito dos ressentimentos sociais, não se restringe a meia dúzia (cinquenta que sejam). Grassa em todos os clubes. E no nosso clube. Entre os holigões mais auto-marginalizados. Mas também com a conivência de muitos pacatos, e até timoratos, filhos-família e pais de família. E avôs de família. Num afã vingativo, coando o fel próprio no remanso do seu sofá. Com a (paupérrima) desculpa da "paixão". Convém acordar para isso.