A reabilitação de Jorge Jesus
Jorge Jesus, ao colo dos seus êxitos benfiquistas, chegou ao Sporting com aquele ar de quem vinha explicar aos bárbaros como se ganha: a "cultura de campeão que eu trouxe", o "Ferrari que montei no outro lado", "o Sporting está muito atrasado", etc. Sempre me fez impressão que imensos sportinguistas engolissem esta conversa: é como aqueles cães vadios que, à força de levarem tanto pontapé, já têm medo de toda a gente e acabam acoitados junto do primeiro sem-abrigo que lhes faz uma festa e os protege. Se isto é mau no sportinguista comum, pior é no presidente. E o presidente passou os últimos dois anos deslumbrado, com o "Jorge" na boca: o "Jorge" está apaixonado pelo Sporting, a "cultura de exigência do Jorge", o "Jorge" isto, o "Jorge" aquilo. O ano passado até pareceu que estava a correr bem.
Este ano é que foi pior. O Sporting do Jorge falhou em todos os momentos decisivos. Em todos, não em alguns:
1) Admitamos que o Real Madrid é uma super-equipa (que é) e que estar a ganhar 1-0 próximo dos 90 minutos não é suficiente para garantir a vitória. A derrota por 2-1 foi o primeiro momento decisivo falhado, embora explicável, para sermos simpáticos.
2) Menos explicável é a barracada da derrota por 3-1 com o Rio Ave: o segundo momento decisivo, logo a seguir à desilusão de Madrid. Ou a barracada dos 3-3 em Guimarães, pouco depois.
3) Admitamos também que era difícil sacar um empate ao Dortmund, mas como explicar a incapacidade para, pelo menos, empatar com o Legia? Outro momento decisivo, pelo qual não continuámos na Liga Europa.
4) Depois, foi o falhanço na Luz. Decisivo.
5) Depois, com o Braga em Alvalade. Decisivo.
6) Com o Chaves, para a Taça. Decisivo.
7) Com o Setúbal, para a Taça da Liga. Decisivo.
8) Com o Porto, nas Antas. Decisivo.
E quando havia o vislumbre de chegar ao segundo lugar, mais uma derrota decisiva e especialmente humilhante em casa com o Belenenses, num estádio cheio de famílias à espera de uma grande festa.
O Sporting do Jorge podia ter falhado algumas destas coisas. Mas todas, sem excepção? Repare-se que isto acontecia ao mesmo tempo que o Sporting do Jorge ia apresentando um futebol deprimente, que toda a gente via. Toda a gente, menos o Jorge, a avaliar pelas conferências de imprensa.
Dito isto, acho que o Jorge Jesus deve continuar a ser o treinador do Sporting. Sempre fui contra saídas precoces de bons treinadores, como Leonardo Jardim ou Marco Silva. O mesmo acontece com Jesus. E provavelmente até se terão criado condições para tudo correr melhor: o Jorge com a crista mais baixinha, o Sporting menos deslumbrado. Com uma relação mais igual entre si, um pode potenciar o outro. É preciso é chegar lá.