Ao longo dos anos já passaram pela minha frente muitas decisões judiciais desprovidas de razão e de bom senso, mas esta do Conselho de Justiça da FPF a dar provimento ao recurso do Benfica, sobre o impedimento aos empréstimos de jogadores dentro da mesma divisão, atinge novos patamares de absurdidade. O teor completo do juízo ainda não é conhecido, mas por o que foi noticiado, a justificação principal assenta-se na risória premissa de que o regulamento aprovado pelos clubes na Assembleia Geral da Liga «limitaria o princípio de livre acesso a trabalho». Nem sequer me vou dar ao trabalho de elaborar um qualquer argumento quanto à nulidade desta premissa, transparente na sua intenção de «atirar poeira jurídica para os olhos». No que ao Benfica concerne - uma vez que foi a entidade que apresentou o recurso e que na época passada emprestou 29 jogadores estrangeiros - esta decisão infere, explicitamente, que o conselho federativo português atribui a si dispensação jurisdicional para deliberar sobre «o princípio de livre acesso a trabalho» de cidadãos do Brasil, Suécia, Eslovénia, Uruguai, Paraguai, Argentina, e Cabo Verde, só para nomear alguns, num contexto generalizado e ignorando o enquadramento real e legal relevante a esta ocorrência laboral.
De qualquer modo, o que aconteceu, na realidade, foi que o voto legítimo e democrático da Assembleia Geral da Liga lesou os interesses partidários de uma minoria - leia-se, Benfica e FC Porto - e, daí, a necessidade de encaminhar o processo para outro fórum onde as influências obscuras poderiam agir em todo o seu esplendor, à conveniência. Gostaria de ver os clubes recorrerem desta decisão mas duvido que aconteça. O mais provável, à boa portuguesa, é alcançarem um qualquer entendimento para aplacar as vozes mais ruídosas e satisfazer os mesmos interesses. Não posso dizer que fiquei pasmado pela decisão, mas lamento verificar que mais uma vez o futebol português foi traído.
A minha oposição aos empréstimos tem múltiplas vertentes e em nada se relaciona com simpatias clubísticas. A principal delas, a flagrante exemplo do que o FC Porto faz há anos e o Benfica tem vindo a tentar imitar, é o «armazenar» de jogadores, primacialmente para evitar que eles optem por outros emblemas. Isso, e a distribuição dos activos pelos clubes medianos de forma a condicioná-los. O Sporting é o que menos tem emprestado e 99% dos que emprestou são oriundos da sua formação, acentuando, portanto, a intenção da sua continuada evolução. Não é esse o caso com os outros clubes. Não é ao acaso que o Benfica e o FC Porto são os principais opositores ao regulamento. O Benfica na época passada teve apenas 4 portugueses emprestados na 1.ª Liga, e o único da sua formação - que até rescindiu com o clube há pouco tempo - foi o David Simão. Tudo o resto são estrangeiros. A lei dos emprestados, como estava, faz com que os principais clubes, salvo o Sporting, apostem menos na formação e privilegiem cada vez mais o estrangeiro. Muito por isso, o SLB entra em campo quase sempre com 10 ou 11 estrangeiros e a Selecção Nacional tinha apenas um - e duvidosa escolha que foi - desse clube. A verdade é uma coisa e os interesses partidários é outra. O atleta português é prejudicado imenso com esta lei que eles insistem em manter. Não o perturba que PInto da Costa seja a favor dela ? Desde quando é que ele se preocupa com o estado do futebol português ? Nunca...
Quem anda bem informado não necessita de investigar. Só há um David (Martins) Simão que foi formado no Benfica, esteve emprestado à Académica na época passada e que inicialmente foi dado na equipa B este ano. Jornal Record 2/7/2012: «David Simão já não é jogador do Benfica. O médio de 22 anos rescindiu contrato que o ligava aos encarnados até Junho de 2015. Esclarecido ?
Continua a «martelar» na mesma ! O David Simão que eu refiro no comentário que fiz e já em alguns outros escritos, como tendo sido o único português emprestado na 1.ª Liga pelo Benfica na época passada, é o David Simão que esteve na formação do Benfica de 1999 a 2009, que foi emprestado ao Fátima, Paços Ferreira e depois de ainda ter estado com a equipa principal, foi então emprestado à Académica. Nasceu em 1990-05-15. Se existe um outro David Simão, eu desconheço-o, nunca me referi a ele e é-me indiferente. Só se o David Simão que rescindiu contrato mudou de ideias passados alguns dias e voltou ao clube. É um cenário que não vi noticiado em lado algum.