«O Benfica fez um recurso dessa decisão (empréstimos) e como director e ex-jogador considero que vai prejudicar o jogador português. Os que saem dos juniores ou das equipas B, com essa lei, terão que ir para a segunda divisão ou para o estrageiro para continuarem a sua evolução. Vamos ser obrigados a enviar jogadores para o estrangeiro. Faz-me confusão que clubes que recebem jogadores emprestados tenham decidido aprovar esta decisão, que parece descabida».
- Rui Costa -
Observação: Alguns homens do futebol português são difíceis de compreender (ou talvez não). O regulamento a proibir o empréstimo de jogadores, dentro do mesmo escalão competitivo, foi aprovado por uma larga maioria na Assembleia Geral da Liga. Entretanto, surgem os do contra a fazer campanha pública. Começou por Antero Henriques do FC Porto, seguido, incrivelmente, pelo próprio presidente da Liga e, mais recente, entre outros, por Rui Costa - director (sem pasta) do Benfica. Queixa-se ele que o regulamento vai prejudicar o jogador português, nomeadamente os juniores e os das equipa B. Vejamos o cenário do Benfica durante a época de 2011-12: no total, teve 39 jogadores emprestados: 12 na Liga Zon Sagres, 5 na Liga Orangina, 2 na III Divisão e os restantes 20 no estrangeiro. Dos 12 na primeira liga portuguesa, apenas 4 são portugueses, enquanto que os restantes 8 são oriundos do Brasil, Suécia, Uruguai, Paraguai, Eslovénia, Argentina e Cabo Verde. Quanto aos juniores, verifica-se que o único jogador português formado no Benfica e emprestado na Liga foi David Simão. Fábio Faria, Nuno Coelho e Rúben Amorim não foram. No aparente plantel principal de 27 jogadores, constam apenas 8 portugueses, entre os quais Carlos Martins cujo futuro provavelmente não passará pela Luz, três recém-chegados que é de prever irão para a equipa B e, entre os mais em destaque, Nélson Oliveira, Yannick Djaló e Miguel Vítor que, em princípio, não serão titulares. Em soma, no total de 66 jogadores filiados, o Benfica regista apenas 18 portugueses. Perante isto, é justo perguntar qual é a verdadeira essência da oposição de Rui Costa e do Benfica ao regulamento dos empréstimos, uma vez que é por de mais óbvio que o jogador português não é.
P.S. Ainda mais considerações: OBenfica teve jogadores emprestados em 6 clubes na 1.ª Liga: U. Leiria, Rio Ave, Braga, Académica, Beira-Mart e V. Guimarães. O que significa que em 12 jogos na época jogaria em posição de vincada vantagem porque os adversários seriam privados desses activos. O FC Porto: Académica, Olhanense, Rio Ave, U. Leiria e Braga. O idêntico cenário em 10 jogos por época. Outra fórmula para ter um «campo inclinado», não concorda ?
Caro Rui Gomes, discute-se os empréstimos com o intuito de moralizar e de criar regras para que a verdade desportiva seja defendida. para todos. Como disse anteriormente pode-se limitar o numero de jogadores a emprestar, as suas caracteristicas (por exemplo apenas jovens até determinada idade, formados ou não pelo clube...), numero de equipas a que uma mesma equipa pode emprestar, proibir que joguem contra os clubes de origem, etc... e com isso normalizar as relações entre clubes para que a figura do empréstimo que existiu possa ser vista como uma mais valia tanto para os clubes como para os jogadores. Você aponta os variados casos que no passado estariam a potenciar o inquinar da verdade desportiva. mas agora fala-se de olhar em frente para resolver esse problema. procurar formas e regras que ajudem tanto os clubes como os jogadores. os empréstimos não são uma figura de criminosos, existem em todo o mundo e fazem parte do mercado e da politica dos clubes. é preciso moralizar? de acordo. então olhem de frente e veja-se onde estão os excessos e com o contributo de todos poder-se-ia perfeitamente chegar a um ponto de equilibrio. Acabar pura e simplesmente com os empréstimos parece-me verdadeiramente absurdo e que a curto prazo nada beneficia o futebol de alta competição. Acho que não se pode confundir as opções particulares de um clube com os interesses do desporto. Se o SLB ou o FCP emprestava 50 jogadores seria uma opção legitima, enquanto a lei o permitiu. se o SCP não quer emprestar, também está no seu direito. não vale é a pena começar por considerar que uns têm tudo bem e outros têm a raiz do mal. criam-se as regras e depois se querem ou não emprestar será problema de cada um. diferentes clubes, diferentes pessoas, diferentes opções, naturalmente, não considera?
Eu nunca analisei a temática pela vertente moralizadora, mas sim pela organização futebolística. Baseado apenas pela minha experiência no futebol, tento alternativas, nunca emprestaria jogadores por mim formados ou ainda bastante jovens e que requerem jogar co regularidade. As estatísticas disponíveis indicam, esclarecidamente, e não apenas em Portugal, que a vasta maioria dos jogadores emprestados nunca regressão aos seus clubes a título definitivo. A outra consideração, para mim talvez ainda mais importante, é que empréstimo de um jovem para fora não produz os mesmos resultados porque a) o clube que o recebe não se preocupa com o seu desenvolvimento, usa-a como melhor serve os seus interesses e nada mais b) o clube que recebe, invariavelmente tem outra filosofia de jogo e outra cultura desportiva, que em nada beneficiará o jovem c) o clube que recebe nem sempre dá tempo de jogo suficiente ao jovem, anulando a essência do empréstimo da parte de quem possui os seus direitos. Muito por isso, a exemplo, o Sporting há dois anos, salvo erro, começou a impor a condição que o empréstimo só seria válido se o jogador jogasse com regularidade. Nem todos os campeonatos europeus usam os empréstimos, apenas alguns. Aqueles com meios, a exemplo do Real Madrid, Manchester, Barcelona e diversos outros optam 99% por colocar os jovens nas suas equipas B e C. Penso que muitas pessoas estão a analisar a contenda pela vertente clubística, quando isto tem a haver com o todo do futebol. Porque é que clubes que normalmente aceitavam emprestados, votaram a favor deste regulamento ? O meu parecer em nada se relaciona com o Sporting, directamente, uma vez que já defendo esta minha tese desde os tempos em que era director desportivo ou presidente de clubes. E ainda menos se relaciona, directamente, com os meios utilizados pelo Benfica, FC Porto e outros, ao abrigo da lei antiga. Sobretudo, sou e sempre fui contra o armazenar de talentos. Depois de tudo dito e feito, o objectivo fulcral dos que compram e emprestam em quantidade, é precisamente esse e até me admira (ou talvez não) a UEFA ou a FIFA não terem vindo com regras sobre isto, por muito que evitem de se meter na gestão das competições domésticas.