O bombardeamento não pára
Tentar compreender a intenção de António Simões e o timing das suas declarações será um exercício de futilidade, com certeza. Para sua informação, enquanto apenas cidadão, o que ele já é há muitos anos, a sua legitimidade para criticar é igual à de qualquer outro, não obstante, pelo seu passado, ter mais fácil acesso à media. Comparar a atenção que ele mereceu durante a sua carreira e a que foca em Ronaldo agora, nos tempos em que vivemos, é somente fantasista. Serei o primeiro a admitir que Cristiano Ronaldo não terá uma postura primorosa, no contexto das palavras de António Simões, mas é a mesma que sempre exibiu enquanto no Manchester United e mais recentemente no Real Madrid, sem se verificar qualquer prejuízo para esses emblemas por isso, em vincado contrário. É, igualmente, a mesma que o acompanhou ao longo de nove anos ao serviço da Selecção Nacional, com 96 internacionalizações e 32 golos marcados. Nunca o seu profissionalismo, a sua entrega e a sua total disponibilidade estiveram em causa. A maior preocupação, aparentemente, é analisar as suas atitudes sob uma lupa grande angular receptiva ao mais insignificante pormenor. Queremos que ele seja um dos melhores jogadores do mundo, se não o melhor, e em simultâneo, um rapaz com a inocência e afabilidade de um santo. Todos os extraordinários talentos, indiferente da especialidade, têm - terão que ter - uma boa dose de egocentrismo. É parte natural do «make-up», sem o qual, porventura, não seriam extraordinários. Ou aceitamos essa característica do seu carácter ou, então, será melhor dispensar dos seus serviços.
Quanto a António Simões, também é legítimo questionar quanto das sua críticas são assentes nas suas reconhecidas simpatias clubísticas. Dando ao trabalho de pesquisar os arquivos de futebol, seria possível apontar muito mais graves situações em que ele não sentiu a mesma urgência em vir a público criticar. Vem-me prontamente à ideia uma das ocorrências mais insólitas, mais absurdas nos anais históricos do futebol mundial; um capitão benfiquista com a fotografia da filha na braçadeira em vez do emblema do clube. Onde estava, então, a indignação de António Simões?