O direito natural à multiplicação de cachecóis
O João Gobern tem todo o direito de se assumir como adepto benfiquista. E, sendo convidado para fazer comentário futebolístico na RTP precisamente como analista de cachecol, tem naturalmente também o direito - e neste caso quase o dever - de assumir a sua condição de benfiquista. Nada a objectar quanto a isto. Sendo assim, quem poderá espantar-se que vibre em directo com a marcação de um golo da sua agremiação ao minuto 92 de um jogo contra um clube que ameaça disputar-lhe o título? Fará sentido compará-lo ao ex-ministro Manuel Pinho que foi afastado do Governo socialista por ter feito um feio gesto a um deputado da oposição na respeitável sede da democracia que é a Assembleia da República?
Quanto a mim, o caso pode e deve servir de pretexto para a indignação sportinguista mas sem ter Gobern como alvo. Quem merece críticas é a RTP, que inclui há quatro anos na grelha regular do seu espaço informativo um programa de comentário futebolístico, intitulado Zona Mista, que apenas permite um adepto de cachecol. O do Benfica. À revelia das suas obrigações de serviço público que lhe impõem normas acrescidas de isenção, pluralismo e equidade. Como se uns cachecóis fossem mais iguais que outros...
A questão é só esta. E é quanto basta para merecer debate. E suscitar legítima indignação.
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