«A organização de árbitros profissionais»
Faço breve referência a este tema na minha coluna na edição de hoje do jornal do Sporting, mas a sua preeminente relevância justifica uma abordagem um pouco mais alargada. Com a tolerância exausta para com o estado da arbitragem, doméstica e internacional, as federações do Canadá e dos E.U.A. formaram uma parceria sem precedente na história do futebol mundial, a fim de resolver a complexa contenda. Para o efeito, foi anunciado no passado dia 6 de Março a criação da «Organização de Árbitros Profissionais», um organismo independente, sediado em Nova Iorque, com um muito simples objectivo: estabelecer um padrão universal para governar a arbitragem do futebol, a ser eventualmente adoptado pela FIFA. Para liderar o projecto foram entrevistados candidatos da Argentina, Espanha, Alemanha, Reino Unido, México e E.U.A. e o escolhido foi um inglês, Peter Walton, administrador de carreira e árbitro da «Premier League» durante muitos anos. O dossier que estipula os parâmetros do mandato é extenso de mais para descrever neste espaço, mas satisfará saber que o organismo não operará subordinado a nenhuma liga, conselho de disciplina ou arbitragem, que os responsáveis dispõem de fundos substanciais para o seu sustento total e que, como base experimental, a O.A.P. utilizará a MLS.
Peter Walton começou por sublinhar o mais evidente, nomeadamente que é inadmissível que a essência de uma indústria que mexe com avultados fluxos económicos tenha, como um dos seus componentes fulcrais, agentes em regime de voluntariado a zelar pelas regras do jogo e cuja actividade deficitária impacta não só o desporto em si, mas também a qualidade da existência das próprias instituições que constituem a indústria. Adiantou, ainda, que muito embora erros sejam cometidos e aceites como parte inevitável do jogo, torna-se absurdo que não existam estruturas para minimizar a gravidade e frequência desses erros e, pior ainda, que se venha a público por via de egos populistas defender o indefensável. Atletas e outros na periferia do jogo beneficiam de preparação diária apoiada pelos meios mais avançados e sofisticados que existem no mundo e não faz sentido que os árbitros não trabalhem com as mesmas condições.
Embora seja prematuro divulgar quaisquer das medidas em estudo, Peter Walton exemplificou uma que está a ser delineada: o clube, se assim entender e tiver provas conclusivas que um jogador seu foi expulso injustamente por erro da arbitragem, terá 24 horas para recorrer a um painel composto por três elementos independentes, que deliberarão o caso imediatamente, com autoridade para manter ou anular a decisão original. A partir do momento que o clube tenha dois recursos indeferidos, abdicará desse direito para o balanço da época. O mesmo é aplicável ao clube que apresente um recurso considerado frívolo. A decisão do referido painel suplantará, em definitivo, qualquer punição atribuída por um conselho de disciplina. Esta é apenas uma entre muitas medidas revolucionárias que irão surgir num futuro não muito distante e será interessante acompanhar a evolução do projecto. Considerando a metodização organizacional norte-americana, é de prever o envolvimento discreto e circunspecto da FIFA, em parelelo, no todo do processo, ficando no ar a expectativa quanto à sua eventual disponibilidade para a implementação do mesmo. Para mera informação de quem, porventura, menospreze a dimensão da modalidade neste continente, é notável verificar que são registadas cerca de 45 mil inscrições anuais para a arbitragem de futebol e que o maior complexo do género do mundo, está situado na cidade de Blaine, Minnesota, com nada menos do que 52 campos em redor do estádio principal. Caso para reflexão!